João Evangelista e os romances de Emmanuel

Magda Luzimar de Abreu

Os romances de Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier, trazem valiosos registros históricos de Jesus e dos primeiros movimentos do Cristianismo. Referimo-nos às obras Há 2000 anos…, 50 anos depois, Paulo e Estêvão e Ave, Cristo, publicadas respectivamente em 1939, 1940, 1941 e 1953. Exceto na obra Paulo e Estêvão, encontramos narrativas do próprio autor espiritual acerca de João ou de seu legado nos períodos narrados.

Em Paulo e Estêvão, concentra-se a maior parte das informações sobre a participação de João na implantação do Cristianismo, após a crucificação de Jesus. Nas demais encontramos narrativas dos que o conheceram ou receberam informações dos que com ele conviveram.

Apresentamos ao leitor breve material coletado destes romances, começando por Há 2000 anos…, no qual encontramos Ana, escrava de Públio Lentulus, reencarnação de Emmanuel, relatando ouvir Jesus em Cafarnaum, à margem do lago de Genesaré. Na narrativa ela destaca a proximidade entre João, um dos dois filhos de Zebedeu, e Jesus:

O Mestre apreciava a companhia de Simão e dos filhos de Zebedeu e, quase sempre, era em uma de suas barcas que ele vinha, solicito, atender às nossas rogativas…[i]

Em Paulo e Estêvão, encontramos a maior parte dos relatos sobre João. Inicialmente vemos o Apóstolo Amado auxiliando Pedro na Casa do Caminho, instituição coordenada pelo apóstolo pescador, e que abrigava inúmeros necessitados do corpo e da alma. Na segunda parte da obra temos informações de João em Éfeso.

Destacamos a relação de João com Estêvão e Paulo. Com relação a Estêvão, reproduzimos o texto no qual Emmanuel narra a admiração de João pelo primeiro mártir:

João fixava nele os olhos enternecidos, identificando, mais uma vez, no seu verbo ardente, a mensagem evangélica interpretada por um discípulo dileto do Mestre inesquecível, nunca ausente dos que se reúnem em seu nome[i].

Observamos que João, apesar de Estêvão não ter conhecido Jesus pessoalmente, nele identifica um discípulo em perfeita sintonia com a mensagem do Senhor. Isto nos mostra que a mensagem de Jesus é para todos e que, quando com ela nos comprometemos não apenas a conhecê-la, mas particularmente a colocá-la em prática, nos candidatamos a ser denominados discípulos do Mestre.

Quanto a Paulo, Emmanuel informa que o rabino baniu João de Jerusalém, quando da execução de Estêvão. Porém, convertido, retornou à Casa do Caminho, e João apoiou o auxílio ao novo apóstolo do Senhor, apesar dos protestos de Tiago. Foi Paulo quem sugeriu que João também escrevesse sobre Jesus.

O mentor espiritual relata o carinho de João para com o Apóstolo dos Gentios, demonstrado na iniciativa de Paulo em ir ter com ele, agora em Éfeso, para lá consolidar a igreja cristã que o discípulo amado implantara.

Tempos depois, quando a igreja de Éfeso se desfazia em razão dos embates com o pensamento judaico convencional, Paulo retorna aquela cidade. Interessava-lhe também obter informações de Maria que lhe permitissem escrever uma biografia de Jesus. Porém, uma rebelião ataca em cheio a igreja e seus colaboradores e Paulo, sentindo-se o motivador de tamanha intolerância, decide sair de Éfeso e empreender um trabalho de divulgação que pudesse chegar a Roma e a outros povos do Ocidente. Quando ele informa suas intenções a João, Emmanuel registra o mais belo diálogo entre os dois apóstolos. Paulo faz uma análise de sua vida, desde a perseguição que empreendeu aos cristãos, resultando na morte de Estevão e outros tantos, passando pelo seu encontro com Jesus, e chegando até aquele momento em que conversam.

É quando João, tocado pela humildade do apóstolo da gentilidade, lhe diz:

És feliz, Paulo – disse ele convicto –, porque entendeste o programa de Jesus a teu respeito. Não te doa a recordação dos martírios sofridos, porque o Mestre foi compelido a retirar-se do mundo pelos tormentos da cruz. Regozijemo-nos com as prisões e sofrimentos. Se o Cristo partiu sangrando em feridas tão dolorosas, não temos o direito de acompanhá-lo sem cicatrizes[1].

Em outro momento, Emmanuel registra que, quando João, em Roma, é preso, Paulo é notificado na Espanha e, voltando para Roma imediatamente, intervém em favor de João, conseguindo sua libertação. Paulo retira-o de Roma e encaminha-o rapidamente para Éfeso, temeroso dos desdobramentos das perseguições na capital romana que prenunciavam mais profundas dores para os discípulos do Cristo.

Na obra 50 anos depois, Emmanuel reencarna como Nestório, cristão e escravo judeu, nascido em Éfeso, aprisionado próximo de Jerusalém. A história se inicia no ano 131 d.C., em Esmirna, quando ele é dado de presente a um nobre romano, Helvídio.

Nestório conheceu João e o presbítero Johanes, discípulo dileto do evangelista na igreja de Éfeso. Ele participava, à noite, no interior das catacumbas da Via Nomentana em Roma, de estudos das passagens do Evangelho do Divino Mestre Jesus. Informa-nos Emmanuel que os cristãos se identificavam, fraternalmente, pelo sinal discreto da cruz.

Com ele aprendemos sobre a atuação de João naquela cidade no texto abaixo:

Assumindo a responsabilidade da palavra, esta noite, recordo a minha infância para vos dizer que vi João, o apóstolo do Senhor, que, por longos anos, iluminou a igreja de Éfeso! O grande evangelista, nos seus arroubos de fé, falava-nos do céu e de suas visões consoladoras… Seu coração estava em permanente contato com o do Mestre, de quem recebia a inspiração divina, como derradeiro discípulo na Terra, santificando-se as suas lições e as suas palavras com o sopro sublimado das verdades celestes![2]

É também com Nestório que entendemos os aspectos relacionados às diferenças de abordagens no trabalho de divulgação da mensagem de Jesus apresentadas nos textos dos quatro evangelistas e nas cartas de Paulo:

– Meu amigo – perguntava um dos estudiosos presentes –, como explicar a diferença sensível entre os evangelhos de Mateus e de João, ou entre as narrações de Lucas e as epístolas de Paulo? Não foram todos apóstolos do ensinamento cristão e inspirados do Espírito Santo?

– Sim – esclareceu o interpelado –, mas convenhamos que a cada trabalhador concedeu Jesus uma tarefa. Se Lucas e Mateus nos mostraram o pastor de Israel encaminhando as ovelhas tresmalhadas ao aprisco da verdade e da vida, Paulo e João nos revelaram o Cristo Divino, Filho do Deus Vivo, na sua sublimada missão universalista, a redimir o mundo[3].

Finalmente, a obra Ave, Cristo trata do Cristianismo quase duzentos anos após sua implantação. As referências a João são encontradas nas descrições do Cristianismo em Lião e da igreja dedicada ao apóstolo.

A história se inicia no ano 217, quando a igreja de Lião se notabilizava por sua prática evangélica e por sua proximidade com o trabalho de evangelização de João Evangelista, tendo, inclusive, relíquias do apóstolo. Tais relíquias foram trazidas por Ireneu, mártir, que se tornou bispo de Lião. Irineu era discípulo de Policarpo, evangelizado por João, e ao qual o apóstolo confiou os textos de seu Evangelho. Os cristãos de Lião sofreram perseguições e martírios. Além de estudos aprofundados dos textos da Boa Nova, notabilizaram-se na assistência social, mantendo vivas as características da Casa do Caminho, em Jerusalém. Sobre a Igreja de João, fala-nos Emmanuel:

A igreja de São João era, pois, acima de tudo, uma escola de fé e solidariedade, irradiando-se em variados serviços assistenciais[4].

As narrativas históricas de Emmanuel são importante fonte de pesquisa sobre o trabalho do discípulo amado após o retorno de Jesus ao mundo espiritual. Para nós, elas são um complemento fundamental aos textos que compõem os livros do Novo Testamento.

Agradecemos a Jesus e a Deus, Nosso Pai, a permissão para que este mentor espiritual pudesse compartilhar conosco suas reencarnações com informações tão ricas sobre este período do Cristianismo. Convidamos o leitor a apreciar estas obras.


[1]Idem, 2ª p., c. 7, p. 548

[2]XAVIER, F. C. 50 anos depois, pelo espírito Emmanuel. 21ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 1991, 1ª p., c. 5, p. 99

[3]Idem, p. 105.

[4]XAVIER, F. C. Ave, Cristo, pelo espírito Emmanuel. 12ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 1991, 1ª p., c. 3, p. 73.

[i]XAVIER, F. C. Paulo e Estêvão, pelo espírito Emmanuel. 44ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 2009, 1ª p., c. 5, p. 108

[i]XAVIER, F. C. Há 2000 anos…, pelo espírito Emmanuel. 25ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 1990, 2ª p., c. 9, p. 420

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