Compromisso afetivo

Luciana Barbosa

“A natureza deu ao homem a necessidade de amar e ser amado. Um dos maiores prazeres que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que simpatizem com o seu.”
Allan Kardec[1]

De grande significação é o comentário do Codificador a essa questão de O Livro dos Espíritos. Como o termo “natureza” no texto se refere à Lei Divina, compreendemos, então, que foi Deus que deu ao homem a necessidade de amar e ser amado. Logo, não se trata de uma escolha, mas de uma lei intrínseca ao ser. Assim como o corpo físico obedece a leis naturais, que atuam em seu desenvolvimento, dando-lhe necessidades, o Espírito também obedece a leis divinas, que lhe provocam a necessidade do amor para a sua evolução.

Vamos tratar aqui de um viés desse amor, que se manifesta na relação conjugal, pois nossos relacionamentos pessoais têm o propósito de nos preparar para o aumento dos nossos ciclos de relações e, consequentemente, de permitir a dilatação da nossa relação com Deus.

Dessa forma, nossa vida é uma vida de relação. Vamos ocupando, ao longo das encarnações, vários papéis em nossos grupos mais íntimos, onde somos irmãos, pais, filhos, amigos, e cada relacionamento nos faz aprender algo. Porém, o encontro sexual presente nas relações conjugais potencializa a intimidade, gerando um campo energético e vibracional com características específicas de intensidade. Por essa característica, os sentimentos que envolvem as relações conjugais, voltados à convivência e aos desafios da vida a dois, precisam de esforços para que se manifestem da melhor maneira.

Os planejamentos de encontros conjugais são caros ao nosso caminho evolutivo, daí a necessidade de estudarmos, conversarmos, nos instrumentalizarmos para colher e doar o máximo possível dessa experiência.

Martins Peralva traz para nós um pequeno esboço dos tipos de relacionamentos conjugais que podemos encontrar no caminho de nossa encarnação. Importante é ressaltar que essa divisão tem como objetivo fazer um quadro esquemático do tema, sem pretender esgotá-lo, por compreendê-lo como composto de muitas variáveis, que envolvem os sentimentos e o livre-arbítrio do Espírito. O autor divide em cinco os tipos de relacionamentos:

“ACIDENTAIS: Pessoas que (…) se aproximam, surgindo daí o enlace acidental, sem qualquer ascendente espiritual. (…) Esses casamentos podem determinar o início de futuros encontros, noutras reencarnações;

PROVACIONAIS: (…) duas almas se reencontram em processo de reajustamento necessário ao crescimento espiritual. Esses são os mais frequentes. A maioria dos casamentos obedece, sem nenhuma dúvida, a esse desiderato;

SACRIFICIAIS: Esses reúnem almas possuidoras de virtude e sentimentos opostos. É uma alma esclarecida, ou iluminada, que se propõe a ajudar a que se atrasou na jornada ascensional;

AFINS: (…) são os que reúnem almas esclarecidas e que muito se amam. São Espíritos que, pelo matrimônio, no doce reduto do lar, consolidam velhos laços de afeição;

TRANSCENDENTES: São constituídos por almas engrandecidas no amor fraterno e que se reencontram, no plano físico, para as grandes realizações de interesse geral.” [2]

O Espírito André Luiz nos traz mais uma forma de classificação dos relacionamentos, dessa vez através da personagem Luciana, que esclarece: “Mas graças a Jesus […] aprendi que há casamento de amor, de fraternidade, de provação e de dever.”[3] Como dissemos, essa classificação tem o fim didático de nos mostrar as variáveis presentes nos relacionamentos afetivos, mas o que nos importa mais é a forma como nos relacionamos. Assim a personagem finaliza sua fala: “[…] embora todos sejam sagrados.”[4] Ou seja, até mesmo os relacionamentos ditos acidentais são sagrados, porque representam um convite ao aprendizado do afeto e de transformações espirituais, que alcançamos nos exercitando nos desafios da tolerância.

Segundo Allan Kardec “o casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna.”[5] Como vemos, a união de duas almas tem por finalidade promover o progresso de ambas, pois será um aprendizado que força nossa saída do egoísmo e do exclusivismo. Assim, nossos parceiros e parceiras de caminhada são os melhores professores que poderíamos ter de matérias que ainda não aprendemos na escola da vida, como paciência, tolerância, amor.

Quando um diretor de escola vai contratar professores para a sua instituição, escolhe os que têm o melhor currículo, o que tem mais experiência na matéria que lecionará. Na escola da vida também acontece assim. Nossos melhores professores não são necessariamente os que já aprenderam a matéria, mas sim os que nos ensinarão a sermos melhores nela.

Dessa forma, somos também os melhores professores que nossos parceiros poderiam ter. Como estamos no grande educandário da Terra, essa é nossa oportunidade de ouro de reconciliarmo-nos com aqueles a quem fizemos sofrer, estreitar laços de afeto rotos pelo tempo e, principalmente, através do desafio das relações conjugais, nos tornarmos pessoas melhores e oferecermos oportunidade ao outro, para que ele também se torne melhor. Todo relacionamento é para aprender e ensinar, uma via de mão dupla. Os dois se uniram para que seja feito o melhor para ambos, não somente a um, posto que todos temos necessidade de aprender algo, bem como capacidade de ofertar algo.

Muitos são os livros espíritas que nos possibilitam compreender sobre nossas responsabilidades afetivas, nos fortalecendo e encorajando a enfrentar o grande desafio da vida conjugal, reconhecendo nela uma oportunidade de felicidade. O Departamento de Assuntos da Família (DAF) da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora tem uma lista de livros sobre o assunto, que segue abaixo.

Quem se interessar pela relação completa para se aprofundar nesse e em outros temas relacionados à família, ou até mesmo montar um grupo de estudo em sua casa espírita para tratar de tais temas, pode entrar em contato através do e-mail amejf@amejf.com.br.

Que Jesus nos fortaleça o desejo de amadurecermos nossos relacionamentos conjugais e familiares.

LIVROS

  • A Arte do Reencontro – Alberto Almeida
  • A Educação do Espírito – volumes 1 e 2 – Walter de Oliveira Barcelos
  • A Vida em Família – Rodolfo Calligaris
  • Desafios da Vida Familiar – Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira
  • Educação e Vivências – Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira
  • Educação segundo o Espiritismo – Dora Incontri
  • Jesus, modelo e guia da família – Alírio de Cerqueira Filho
  • Jesus no Lar – Espírito Neio Lúcio, psicografia de Chico Xavier
  • Minha família, o mundo e eu – Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira
  • No Roteiro de Jesus – Espírito Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier
  • Nossos filhos são Espíritos – Hermínio Miranda
  • O Consolador – Espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier
  • O Despertar do Espírito – Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco
  • Saúde da Relação Pais e Filhos – Alírio de Cerqueira Filho
  • Saúde das relações Familiares – Alírio Cerqueira Filho
  • Sexo e Consciência – Divaldo P. Franco
  • SOS Família – Joanna de Ângelis e diversos espíritos, psicografia de Divaldo Franco
  • Vivências do Amor em Família – Divaldo Franco, organizado por Luiz Fernando Lopes
  • Constelações Familiares – Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco
  • Luz no Lar – Espíritos Diversos, psicografia de Chico Xavier
  • Vida e Sexo – Espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier

[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra, 4ª ed., Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013, q. 938a.

[2] PERALVA, Martins. Estudando a mediunidade. 27ª ed., Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010, p. 135.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra, 2ª ed., Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, q. 822.

[3] XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz, 4ª ed. especial, Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010, c. 38.

[4] Idem.

[5] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra, 4ª ed., Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013, q. 696.

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