Pesquisa sobre inclusão e acessibilidade nos centros espíritas de Juiz de Fora

Daniel Salomão Silva

Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos,  para ver se tem com que a acabar? (Lc 14:28)

Em março, foi realizada uma pesquisa sobre as iniciativas de inclusão e acessibilidade já presentes em nossos centros espíritas. O estudo foi feito com os conselheiros do Conselho Espírita Municipal (CEM) de Juiz de Fora e avaliou o nível de interesse e conhecimento sobre o tema nessas instituições. Esse tipo de pesquisa é importante para o direcionamento das ações da AME/JF, no sentido de orientar, auxiliar e apoiar as instituições constituintes do CEM. Algumas destas ações serão apresentadas no texto.

Algo bem interessante foi o preenchimento quase imediato da pesquisa. Diferente de outras avaliações já realizadas sobre temas diversos, rapidamente quase todos os representantes dos centros espíritas acessaram o formulário on-line e responderam às questões. Esse dado, ainda que não pareça tão relevante, já indica certa sensibilização diante do assunto, ainda que não necessariamente transformada em ação.

Inicialmente, foi perguntado se o conselheiro sabia se havia algum frequentador com alguma deficiência (física ou mental), transtorno mental ou síndrome em seu centro espírita. A quase totalidade relatou ter conhecimento pleno ou parcial, o que é o primeiro passo para uma ação inclusiva.

A segunda questão, todavia, teve uma resposta surpreendente. Quase 70% dos 48 centros participantes declarou atender e acolher a pessoa com deficiência de forma efetiva, como mostra o gráfico abaixo. Contudo, as respostas seguintes contradisseram essa conclusão, como será apresentado à frente. Talvez os conselheiros tenham relatado, na verdade, o carinho ou a boa vontade em acolher quem chega ao centro, do que não se pode duvidar. Porém, é importante destacar que certas adaptações ou práticas são indispensáveis a esse bom atendimento, ainda que os trabalhadores espíritas tenham boa intenção.

Na contramão desse resultado, por exemplo, apenas 50% declarou tratar do assunto com frequência em suas reuniões, enquanto 12,5% informou nunca tratar, como mostra o gráfico seguinte. Como já dito, além da sensibilização perante a condição da pessoa com deficiência, é fundamental pensar de forma prática, afinal, quem realmente se sensibiliza perante a necessidade de inclusão, busca tratar do assunto.

Além disso – o que não deixa de ser positivo -, mais de 80% dos centros declarou ter percebido a necessidade de realizar adaptações, mas menos da metade declarou tê-las executado.

Entre as instalações mais presentes estão os banheiros adaptados (31%), portas com largura adequada para passagem de cadeirantes (56,3%), rampas (50%) e corrimãos em rampas e escadas (54,2%). Entretanto, outras adaptações ainda são necessárias. Buscando auxiliar os centros espíritas da nossa região, já estamos elaborando um Manual de instruções técnicas de acessibilidade, baseado em normas técnicas já estabelecidas, com previsão de distribuição no segundo semestre deste ano. Importante é salientar que essas adaptações são também importantes para a acessibilidade de idosos ou pessoas com dificuldades motoras temporárias. Além disso, mesmo que ainda não estejamos com alguma deficiência ou particularidade similar, enquanto encarnados, estamos suscetíveis a tê-las, portanto, essa preocupação é também conosco.

Com relação à inclusão dos surdos, apenas duas instituições declararam ter intérpretes em LIBRAS, mas 70% acha importante tê-los entre seus trabalhadores. Naturalmente, intérpretes são ainda raros em todos os tipos instituições, logo, promover o aprendizado dessa linguagem é fundamental. Para isso, ainda esse ano, o DCSE da AME/JF pretende realizar um segundo curso de LIBRAS espírita. Além disso, a colocação de placas com sinalização em LIBRAS em portas – junto também a placas táteis em Braille, para cegos –, realizada pela AME/JF em suas instalações, já é uma primeira iniciativa de inclusão.

Por fim, é claro que as condições financeiras de cada centro espírita são determinantes para decisões desse teor. Adaptações arquitetônicas, como elevadores, e tecnológicas, como instalação de telão/datashow, audiodescrição etc., demandam investimentos consideráveis. Logo, é importante certo planejamento financeiro para ações futuras. Entretanto, iniciativas de baixo custo podem e devem ser implementadas.

Por exemplo, em divulgações nas redes sociais, a inserção de legendas em vídeos e de descrição em imagens já é possível gratuitamente. Além disso, o argumento de que não há pessoas com deficiência em seu centro espírita não é suficiente para que sejam negligenciadas ações inclusivas. Muitas vezes, essas pessoas deixam de frequentar nossas instituições justamente por não terem o acolhimento adequado. Logo, fazendo referência à epígrafe que encima esse texto, é necessário inserir, nas bases da torre que queremos construir, a preocupação com a inclusão. Para isso, são fundamentais planejamento e compromisso.

Em caso de dúvidas ou para sugestões, entre em contato conosco pelo e-mail amejf@amejf.com.br ou pelas nossas redes sociais.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *