Antídoto para o egoísmo

Débora Zambalde Vitorino

Dois autores espirituais dos quais gosto muito são Camilo e Joanna de Ângelis, e os textos “Alevantamento familiar”, do livro Desafios da vida em família, e “A família universal”, do livro Sob a proteção de Deus, apresentam interessantes reflexões sobre o tema “família”.

Ao considerar a resposta dos Espíritos para a pergunta 775 de O Livro dos Espíritos, que se refere ao aumento do egoísmo como consequência do relaxamento dos laços de família, Camilo aponta como objetivo do núcleo familiar a redução da carga de egoísmo que o Espírito construiu para si ao longo dos milênios. Ele chama a atenção para o fato de que fora da família, quando não se precisa pensar nos outros, é mais fácil que o homem se deixe levar pelo egoísmo, visto que suas preocupações e tudo o mais se refeririam unicamente à sua pessoa.

Camilo destaca que os laços consanguíneos são capazes “de promover a solidariedade, de incentivar o bem-querer, de instaurar, pouco a pouco, as bases fulgentes do amor.” [1] Dessa forma, nas famílias comuns, sem compromissos espirituais mais graves, os relacionamentos podem possibilitar mais aproximação, interesse e envolvimento entre os seus integrantes.

Segundo ele, a família é o lugar para se aprender a convivência harmoniosa com o diferente, o que ainda é difícil para o homem, porque ele vê a diferença como ameaça. Assim, discussões, implicâncias e indisposições que ocorrem no seio familiar tendem a motivar reflexões necessárias e a levar ao equilíbrio, no decorrer do tempo. E isso ocorre desde a formação da família, quando o interesse afetivo entre os cônjuges permite que cada um pense e se preocupe com o outro, buscando formas de se auxiliarem mutuamente. Depois, vêm os filhos e os pais devem somar esforços para cumprir seu compromisso.

Camilo chama ainda a atenção para o fato de que a beleza da vida terrena está nas diferenças, na diversidade de paisagens, cores, formas, brilhos, contrastes, gêneros, espécies, famílias… E ressalta a dificuldade humana em compreender isso, quando se pergunta: “Todas as diferenças se ajustam muito bem na natureza. Por que somente as diferenças entre humanos geram problemas, tormentos e dor?”[2]

Joanna de Ângelis nos convida a refletir sobre os laços de família, tomando por base a consanguinidade, que é preponderante na natureza animal, por meio do instinto de conservação. Os pais oferecem sua proteção aos filhos até se tornarem independentes e estes ensaiam os passos para as experiências que vivenciarão. Ela nos lembra que os laços de família devem permanecer sempre sólidos: os filhos devolvem o amor recebido aos pais enfermos, idosos ou frágeis; os pais têm a tarefa constante de educar; os irmãos e demais têm compromisso de amor, sustentação e união. É esse exercício que permite que cada um se prepare para as atividades do mundo social fora da família.

Com base no item 18 do capítulo 4 de O Evangelho segundo o Espiritismo, Camilo nos relembra que os Espíritos também formam famílias, que gostam de estar juntos e buscam uns aos outros. Joanna de Ângelis também se refere aos grupos de Espíritos afins e unidos por laços de simpatia, que formam grupos e reencarnam em clãs, tornando mais fácil o progresso individual e coletivo, fazendo a marcha menos penosa para todos.

De acordo com Camilo, a família ocupa uma posição muito importante e grandiosa nos planos de Deus para o homem, tendo em vista o fim a que se destina, como afirmado por Jesus: formar um só rebanho com um só pastor; toda a humanidade unida como imensa família, harmoniosa e suficientemente madura para consentir a coordenação de um só líder.

Dessa forma, os grupos familiares são o laboratório em que o homem aprende a vivenciar o amor verdadeiro, em suas diversas manifestações; onde aprende a conviver com Espíritos com variados gostos, inclinações e posturas e a respeitar o outro e seus posicionamentos. Joanna também entende que a família é um laboratório e também uma escola e um hospital. Nela nos renovamos e corrigimos antigos equívocos, em novas experiências.

Camilo lembra, relativo à lei da reencarnação, que vivenciamos experiências variadas, no corpo e no psiquismo, em todos os povos, sociedades e culturas, nas polaridades feminina e masculina, nos diversos papéis da vida doméstica (pai, filho, irmão, avô, esposo etc.), a fim de que cada um aprenda o que é característico em cada circunstância, tornando-se melhor e se preparando para novos compromissos:

É desse modo, no mundo, que Deus nos mostra que para conseguir amar multidões inumeráveis de irmãos nossos, temos que aprendê-lo pelo exercício desse amor a pequenos grupos de três, cinco ou dez pessoas, dentro do lar, uma vez que ninguém pode ser fiel em grandes coisas, se não consegue sê-lo nas obras pequenas, conforme o ensino de Jesus.[3]

Considerando estes valiosos ensinos dos dois Espíritos amigos, mostrando a importância da família nos planos divinos de progresso incessante e de formação da família universal, espero que saibamos aproveitar a oportunidade da convivência em família para treinar melhores sentimentos e aprender a ampliar a convivência fraterna e amorosa com todos. Que possamos auxiliar no processo de constituição desta família universal com nossa melhor contribuição para o bem de todos e para a erradicação do egoísmo!


[1]     TEIXEIRA, José Raul. Alevantamento familiar. In: Desafios da vida em família. Pelo Espírito Camilo, 3ª ed., Niterói: Editora Fráter, 2012, p.9.

[2]     TEIXEIRA, José Raul. Alevantamento familiar. In: Desafios da vida em família. Pelo Espírito Camilo, 3ª ed., Niterói: Editora Fráter, 2012, p.12.

[3]     TEIXEIRA, José Raul. Alevantamento familiar. In: Desafios da vida em família. Pelo Espírito Camilo, 3ª ed., Niterói: Editora Fráter, 2012, p.20.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *