O pioneiro Jesus de Oliveira, fundador de O Médium

Henderson Marques Lopes

Traços biográficos

Jesus de Oliveira nasceu em 9 de janeiro de 1891, em Santo Antônio de Olaria, hoje município de Olaria, na Zona da Mata mineira. Seu nome original era Jesus Rodrigues de Oliveira, e um fato interessante está relacionado à pronúncia do seu nome. O nome “Jesus” dado às pessoas tem, geralmente, a sua tônica na letra “e” (Jésus). Mas Jesus de Oliveira fazia questão da pronúncia “Jesus”, com a tônica no “u”. Por isso, sempre que podia, assinalava essa condição, até em sua correspondência e nos artigos que escrevia.

Aos quatro anos, seus pais, que professavam a religião católica, mudaram-se para Juiz de Fora e se estabeleceram no bairro Benfica, com comércio e indústria. Ainda jovem, ele aprendeu o ofício de tipógrafo com o historiador Albino Esteves e com Epaminondas Braga. Entusiasmado com o trabalho, tornou seu sonho em realidade e virou jornalista. Em 1910 fundou o jornal O Independente, cujo primeiro número não circulou, devido à uma proibição de seu pai. 

Em 1912, já com 21 anos, criou seu primeiro jornal, O Lince, depois transformado em revista, e que circulou até 1979, após doze anos de sua desencarnação, em 1967. Jesus criou ainda as publicações O Benfica (1913) e O Tiro 17 (1914), para divulgar as atividades do Tiro 17 “Afonso Pena”, de treinamento de reservistas, onde foi tenente atirador e presidente. Após sua extinção, Jesus de Oliveira recebeu o prédio do Tiro em doação, e o transferiu para a Sociedade Beneficente Sopa dos Pobres, instituição fundada em 1931, que, até hoje, atende diariamente a centenas de pessoas carentes.

Ele também é o criador dos jornais O Olariense (1914) e A Propaganda (1915), tornando-se um dos pioneiros do jornalismo em Minas Gerais. Mas, sem sombra de dúvida, seu grande legado é a revista O Médium. Jesus colaborou com inúmeras instituições espíritas e foi presidente da Associação Mineira de Imprensa e do Centro Espírita Paz e Fraternidade, de Juiz de Fora. Participou de diversas reuniões da Casa de Kardec e da sua sucessora, a União Espírita de Juiz de Fora (UEJF), como conselheiro, sempre contribuindo para o desenvolvimento dessas instituições.

Surgimento da revista O Médium

Em 30 de julho de 1932 foi publicado o primeiro número da revista, que nasceu para divulgar assuntos exclusivamente espíritas. Em O Lince, Jesus já publicava artigos e notícias espíritas, mas que causavam indignação aos católicos. Para evitar sanções ou conflitos, criou O Médium, publicação de apenas quatro páginas, com distribuição gratuita. A primeira edição teve tiragem de 500 exemplares e, a partir da segunda, esse número passou para 1000.

Para manter a produção da revista, em 26 de novembro de 1932 foi fundada a Associação Brasileira de Propaganda Espírita (ABPE). A partir de agosto de 1937, a ABPE passou a denominar-se Associação de Publicidade Espírita (APE), extinta em 1955, com a incorporação à União Espírita de Juiz de Fora (UEJF), hoje Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora (AME/JF).

Após um incêndio em março de 1949, que destruiu as instalações da Casa de Kardec, a APE cedeu a revista para a Casa de Kardec, e, com a transferência do órgão para a União Espírita de Juiz de Fora, a revista O Médium passou a ser de responsabilidade da atual AME/JF.

Na época da criação da revista, o Brasil enfrentava um período de repressão religiosa, e Juiz de Fora também foi afetada por esse movimento de intolerância contra as ideias espíritas. Havia pregações contra o Espiritismo, com a proibição de leitura de qualquer revista e jornal ligados ao movimento. Sem se intimidar, Jesus de Oliveira levou adiante a sua iniciativa, com a ajuda de outros confrades. É graças a ele que hoje a revista O Médium completa 90 anos de existência, de modo ininterrupto. Ela prossegue renovando-se, ampliando-se e ajustando-se aos novos tempos, sem, entretanto, perder coerência e buscando cumprir a elevada missão para a qual foi criada: veicular o Evangelho de Jesus à luz dos princípios codificados por Allan Kardec.

A desencarnação

Jesus de Oliveira desencarnou em Juiz de Fora em 9 de outubro de 1967, após longa enfermidade. Seu filho, o jornalista Adail de Oliveira, assim se expressou sobre os últimos momentos do pai, no artigo “Jesus de Oliveira, meu pai” (O Médium, jul/ago de1992):

Foi no Espiritismo que Jesus de Oliveira conseguiu enfrentar resignado a vida real. Ali obteve o bálsamo para a sua missão na Terra. Por esse motivo, abraçou com toda força a doutrina de Kardec, seguindo seus ensinamentos. Foi um autêntico espiritista até a morte da carne. No leito de dor, em minha casa, sofreu um ano e nove dias sem emitir uma única vez qualquer reclamação. O martírio doloroso comovia a todos os amigos que lhe visitavam, aliás, em número surpreendente, confirmando o seu grande prestígio na sociedade.

O velório de Jesus de Oliveira foi realizado na Câmara Municipal de Juiz de Fora e o corpo sepultado no Cemitério Municipal, em túmulo doado pela municipalidade.

Ele enfrentou muitos obstáculos para levar adiante a obra espírita que idealizara, mas como jornalista corajoso e homem idealista, soube ultrapassar os empecilhos dos primeiros tempos difíceis, com fé em Deus, determinação, entusiasmo, discernimento, vontade firme e a certeza do amparo do Mestre Jesus e da Espiritualidade Maior, levando, assim, a missão que lhe fora confiada pelo Alto.

Prestamos aqui a justa homenagem ao pioneiro JESUS DE OLIVEIRA, fundador de O Médium, ao ensejo dos 90 anos de fundação da nossa querida revista. O primeiro número da revista, bem como todas as demais edições, podem ser lidos integralmente em www.omedium.amejf.org.br.

Jesus de Oliveira, fundador de “O médium”

Primeira página do primeiro número de “O médium”

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