Entrevista com Marcelo Gonçalves Pereira
Marcelo é um trabalhador incansável do ensino e da divulgação da música espírita em nossa cidade há mais de 20 anos. Membro da Fundação Espírita Aurílio Braga Esteves (FEABE), tem nas tardes de sábado o compromisso com crianças e adultos desejosos de aprender flauta, violão e outros instrumentos musicais, integrando o ensino da música à Doutrina Espírita. Em conversa com a revista O Médium, Marcelo narrou um pouco da história desse trabalho e compartilhou algumas de suas experiências, que poderão inspirar outras belas iniciativas como esta.
OM: Marcelo, quando e como começou o trabalho de ensino musical na FEABE?
Marcelo: Creio que os primeiros esforços para a implantação desse projeto tenham ocorrido por volta de 1993, ou mesmo antes, por Rui Eugênio Pires (desencarnado em 2002), trabalhador da instituição, com o apoio de Yedda Duarte Gomes (desencarnada em 2004), presidente da FEABE à época. Inicialmente, pretendia-se criar um coral com crianças interessadas e assistidas pela casa. Rui era músico e aprendeu a tocar violão com seu pai, Paulo Pires (desencarnado em 1990), que foi músico atuante na cidade de Juiz de Fora, compositor e também professor de violão. Paulo era integrante de um conjunto musical juiz-forano que, por muitas vezes, tocou em eventos em apoio à FEABE e a outras instituições da cidade. Sua filha, Neuza Maria Pires, lembra-nos de que ele dizia para ela e irmãos: “no Natal, o papai não almoça com vocês! Por quê? O papai vai tocar para os velhinhos da Fundação João de Freitas”. Ainda diz que “para eles, era normal a ausência do pai junto à família nas festas de final de ano pela sua dedicação ao próximo através da música”.
OM: Quando você passou a fazer parte dele? O que o levou a contribuir com esse trabalho?
Marcelo: Conheci o Rui em setembro de 1994, quando ele procurou a Escola Pró-Música, na cidade de Juiz de Fora, hoje Associação Propagadora da Música, onde trabalho desde 1991, e veio estudar violão comigo. Lembro-me bem dos primeiros sons e das conversas acerca de seus objetivos junto à música. Dizia que havia ficado muito tempo sem tocar após a desencarnação de seu pai e tinha esquecido muita coisa. Queria recordar do zero. Aprender a teoria musical. Depois de algumas aulas, disse-me que trabalhava em uma casa espírita e lá, aos domingos, tocava e cantava com crianças e jovens as músicas utilizadas para a evangelização, que vim a conhecer no decorrer das aulas. Dizia que seu objetivo com as aulas era se aprimorar nos conhecimentos musicais junto ao violão, para poder ensinar as crianças assistidas pela casa nas tardes de sábado. O Rui amava a música. Cresceu em meio à boa música em favor do próximo, junto a seu pai e amigos músicos. Nessa época, eu estava com as tardes de sábado livres. Ofereci-me para ajudá-lo, já que tinha a intenção de ensinar a tocar violão. Integrei-me ao projeto em março de 1995 como professor voluntário de violão, flauta doce e musicalização, motivado pela amizade, afinidade e, sobretudo, por tão nobres e entusiasmadas ideias em favor das crianças e da juventude.
OM: Como esse trabalho tem funcionado nos últimos anos?
Marcelo: Dentre outras atividades de ensino musical que desenvolvemos, com foco na música espírita, iniciei em janeiro de 2018 o projeto Cantar e Evangelizar. Busco, através dessa iniciativa, oferecer aos trabalhadores espíritas cursos básicos de violão, teoria musical e harmonia aplicada ao instrumento. O objetivo é ampliar o conhecimento e a utilização da canção espírita nos ambientes de evangelização. Presencialmente, as oficinas aconteciam (e voltarão a acontecer, quando retornarmos com as atividades presenciais) nas tardes de sábado na FEABE e na reunião mensal do DEC da AME/JF, no último domingo do mês.
Fui procurado por integrantes de outras casas espíritas que estavam em busca de material formatado para se trabalhar em oficinas de aprendizagem de violão, com foco na música espírita. Além do material disponibilizado em formato digital (pdf, áudio e vídeo explicativo) e do acompanhamento presencial, também oferecemos aulas a distância, no formato de videoconferência, de acordo com as disponibilidades de tempo do momento. Todo o material é disponibilizado gratuitamente para os participantes e para aqueles que se interessarem. Quem quiser saber mais sobre o projeto pode enviar um e-mail para cantareevangelizar@gmail.com.
OM: Em sua visão, como a música pode auxiliar o indivíduo em seu cotidiano? Você teria uma experiência para compartilhar?
Marcelo: Como músico e professor na área, pude observar muitos resultados positivos relacionados à socialização, concentração, disciplina, foco, atividades em conjunto e aprendizagem de um modo geral. Sobre uma experiência a compartilhar, em meio a tantos objetivos e estilos musicais variados, torna-se oportuno ressaltar a de todos os alunos e ex-alunos que me procuraram para aprender violão e se interessaram pelas canções espíritas. Deste grupo, muitos começaram pelas canções populares, que, digo de passagem, muito têm a oferecer em prol do desenvolvimento técnico junto ao instrumento. Para a nossa alegria, evoluíram como instrumentistas, a ponto de estarem, nos dias atuais, à frente da harmonização e da evangelização, por meio da canção espírita, em suas casas e, até mesmo, compondo novas canções.
OM: Em relação ao Espiritismo, em que a música pode contribuir? Qual o seu papel no centro espírita?
Marcelo: Vejo e sinto a música como uma poderosa ferramenta capaz de veicular a mensagem espírita. Penso que esse deve ser o seu principal papel no centro espírita, além de harmonizar o ambiente por meio de seus elementos fundamentais (melodia, harmonia e ritmo). Cheguei ao Espiritismo através das canções espíritas que me foram apresentadas por Rui, durante as suas aulas e nas várias vezes em que as tocamos juntos na escola de evangelização para as crianças. Por aproximadamente sete anos, fui apenas um voluntário para o ensino da arte da música na FEABE, mas também estava sendo evangelizado sob a luz do Espiritismo, juntamente com as crianças.
OM: Que dicas você dá para que outros centros espíritas implantem trabalhos como esse?
Marcelo: Que comecem! Se em seu quadro de voluntários não há alguém que saiba, por exemplo, tocar violão, podemos ajudar. Experimentem! Identificando boa vontade e um pouco de afinidade com as canções espíritas, principalmente as utilizadas na evangelização infantil, já ensinei para muitos o suficiente para começarem o trabalho. Pela continuidade do mesmo, o desenvolvimento prossegue naturalmente junto ao instrumento. Além disso, os centros espíritas podem começar pela utilização das vozes. Cantem! Procurem, primeiramente, escutar as músicas, mostrar as letras e analisá-las juntamente com as crianças nos ambientes de evangelização. Lembremos sempre que, à frente de qualquer trabalho dentro de uma casa espírita, estamos sob a direção de Jesus, sempre disposto a nos ajudar em tudo o que nos propomos a fazer em nome do bem e do amor ao próximo.
OM: Há projetos para o futuro?
Marcelo: Sim. Pretendemos dar continuidade às atividades presenciais na FEABE e, referente ao projeto Cantar e Evangelizar, temos uma novidade. O último sábado de cada mês, das 14h às 17h, será para atender, presencialmente, as casas e/ou grupos de trabalhadores espíritas. O objetivo é estarmos presente em cada mês em uma casa distinta. Essas oficinas fora da FEABE (Oficinas itinerantes) serão previamente combinadas. Assim, poderemos melhor auxiliar na implantação e continuidade desse trabalho, mostrar, presencialmente, como trabalhar com o material didático-musical disponibilizado em favor da evangelização, de forma a alcançar melhores resultados. Poderemos realizar apresentações musicais com integrantes do projeto, mostrando, na prática, os resultados já alcançados desde o início de sua implantação. Serão momentos de muita prática musical, troca de ideias e de experiências dentro do universo da evangelização e do ensino da música, por meio das canções espíritas.
Conheci o Marcelo como professor de violão e através dele conheci o projeto de aulas de violão e musicalização para as crianças na ceab. A experiência do projeto foi fantástica. Parabenizo ao Marcelo e a todos envolvidos neste trabalho de evangelização através da música. Que as sementes lançadas germinem e frutifiquem.