Conhecimento espírita e vivência: uma conexão necessária

Coluna “Porque estudar”

Scheila Mara Batista Pereira

“Instruí-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da provação humana” (Espírito de Verdade).[1]

A psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960), em seus estudos sobre a importância do PENSAR, entende que esse ato, além de alicerçar a construção de conhecimento, confere ao processo de CONHECER uma propriedade fundamental: ser instrumento de mudança. A capacidade de pensar e todo o conhecimento advindo dela, aponta Klein, alteram profundamente nosso modo de ser, de viver e de nos relacionar conosco, com o outro e com o mundo.

PENSAR e CONHECER são movimentos libertadores e terapêuticos, que proporcionam o amadurecimento profundo dos sentimentos, das emoções e do próprio pensamento. Daí ser atribuída a essa autora a seguinte proposição: “quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso”.

Visando a uma breve compreensão da frase, nosso olhar se detém na palavra “paraíso”, cujo sentido imediato remete a uma área ou jardim murado, conhecido como o espaço das utopias, da contemplação e do descanso eterno. Dessa forma, ser “expulso de algum paraíso” significa que aquele que conhece é liberto da visão ilusória, superficial e idealizada acerca da vida. Para o cristão, não há novidade nesse raciocínio. Quem não se lembra da afirmativa do Mestre: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”? (Jo 8:32).

Também a Doutrina Espírita cumpre, na condição de “O Consolador Prometido por Jesus”, a missão de nos libertar da visão restrita que nos mantém cativos ao imediatismo terreno, porque comprova nossa condição de Espírito imortal. Diante dessa verdade, muda-se completamente o ponto de vista sobre o qual encaramos a vida terrena. Allan Kardec, no capítulo 2 de O Evangelho segundo o Espiritismo, em um item pequeno e rico em reflexões, trata dessa questão, convocando-nos a pensar nos efeitos que o conhecimento claro e preciso com relação à vida futura provoca, a saber: “desenvolvimento de uma fé inabalável e profunda transformação moral”.

Todavia, a aquisição do conhecimento espírita espera do aprendiz dedicação ao estudo e comprometimento pessoal, por se tratar a doutrina, nas sábias palavras do Codificador, da “Ciência do Infinito”. E, nessa condição, requer “atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança”.[2]

A questão é: como atender a semelhante proposição de Kardec, desenvolvendo o hábito de estudo, em tempos tão acelerados e que convidam ao consumo de informações rápidas e horizontais?

Toda APRENDIZAGEM, para compor conhecimento e converter-se em mudança, deve ser SIGNIFICATIVA. Tomar o que se aprende como algo que faz sentido em nossa vida pode ser um caminho para a conquista desse hábito, que, como consequência, transformar-se-á também em gosto pela leitura, pelo estudo e pela reflexão.

Para que uma aprendizagem seja significativa, pelo menos duas condições básicas precisam ser atendidas:  o conteúdo a ser aprendido deve ser potencialmente revelador [e o Espiritismo o é]; e o aprendiz precisa estar disposto a relacionar o conteúdo ao seu dia a dia de maneira consistente e substancial [aqui o apelo é ao nosso já citado comprometimento pessoal].

Diante da oportunidade de estudar a consoladora Doutrina Espírita, não percamos tempo, entregando nossa mente à hora vazia, que alimenta o desânimo destruidor, os delírios de toda sorte e o abandono do trabalho edificante. Abracemos a oportunidade bendita que o conhecimento espírita nos oferece e, iluminados pela luz desse conhecimento, empenhemo-nos em vivenciar as lições aprendidas!

Despedimo-nos de você, leitor amigo, recordando a fala fraterna do Espírito Joanna de Ângelis, ao reforçar o cuidado com o alimento da alma e os resultados que esse cuidado alcança: “o homem, quanto mais preenche os espaços mentais com as ideias do bem, mediante o estudo, a ação ou a reflexão, mais aumenta a sua capacidade e conquista mais amplos recursos para o progresso”.[3]


[1] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2010, c. 6. i. 6.

[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2ª ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, introdução, XIII.

[3] FRANCO, Divaldo P. Episódios diários. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 10ª ed., Salvador: LEAL, 2016, c. 8.

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