Solidão ou solitude?

Lucy Dias Ramos

Muitas vezes, estando a sós, busco, em reflexões mais profundas, a compreensão do porquê de estar tão sozinha, nessa longevidade, após ter vivenciado momentos tão significativos no meu lar, ao longo da existência atual!

E, se me demoro em pensamentos que me levam a pensar numa solidão indesejada, como me sinto tão próxima de todos conectada pelos elos do amor, admito ser, na verdade, uma solitude.

Compreendo que esses períodos de reflexão, em que busco escrever e falar dos meus sentimentos e emoções ao longo da existência terrena, demandam momentos assim, onde o silêncio e a quietude ajudam na elaboração do que desejo expressar.

Entretanto, existem momentos de solidão onde a tristeza tenta escurecer meu horizonte e o pensamento se perde no desejo de compreender o que me traz essa amargura, se tenho no coração uma imensa gratidão a Deus pelas benesses da vida.

Busco na oração o alívio para a minha alma e a resposta me fez recordar uma página de Emmanuel, em que ele explica com sabedoria o que acontece. E, lendo suas advertências e explicações, sinto-me encorajada a seguir com fé e coragem.

Ele elucida que os que hoje não estão ao seu lado, certamente não iriam compreender os anseios de sua alma, nem o caminho da redenção espiritual que você escolheu para superar os desafios existenciais e resgatar os débitos contraídos em outras existências.

Esclarece-nos que muitos não conseguiriam estar como você na solução dos problemas que enfrenta, nem nos deveres que você assumiu.

A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza.
A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho. (…)
Não esperes pelos outros na marcha de sacrifício e engrandecimento. E não olvides que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o divino amigo dos homens, não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.i

Portanto, nós, que ainda estamos aprendendo a arte de servir aos semelhantes e que somos tão imperfeitos, e mesmo assim nos dizemos seguidores do Mestre Jesus, aprendamos com seus exemplos e busquemos seguir com humildade nossa trajetória, mesmo solitários ou em momentos de abençoadas presenças de almas afins. Que, embora seja árdua a caminhada, brilham em nosso íntimo as luzes da fé e da esperança de que chegaremos a alçar com coragem os cumes da elevação espiritual que nos aguarda, se realmente conseguirmos vencer todos os desafios que ainda teremos que enfrentar!

A existência terrena é um constante aprendizado, que nos prepara por meio de lutas e desafios existenciais, das dores da alma que nos levam a experenciar momentos de tristeza e desalento, preparando-nos para palmilhar em direção ao nosso destino maior, em vidas sucessivas, num processo de expiação e ajuste de contas, mas, também, para conquistarmos o desenvolvimento moral, por meio do trabalho no bem e do desenvolvimento de novas potencialidades, sempre iluminadas pelo amor.

Portanto, não devemos permitir que nos perturbem a incompreensão nem o abandono dos que compartilharam os momentos de ilusões e felicidades passageiras ao nosso lado. Eles não conseguiram ainda compreender o que já entendemos e aceitamos como valores morais, e se deixaram ficar.

Ficaram distantes de nossos ideais superiores, de nossas aspirações mais enobrecedoras e estranham que caminhemos assim, solícitos e compassivos diante dos marginalizados e sofredores do caminho.

Nunca estamos sozinhos. Amigos leais e companheiros estão sempre conosco, embora se façam discretos e não interfiram em nossos momentos de solitude, quando buscamos a paz e o refazimento íntimo, estudando, meditando e orando em gratidão a Deus pelas dádivas de cada dia.

A presença dos amigos e familiares queridos que nos antecederam e já se encontram no mundo espiritual se faz muito presente na prática do evangelho no lar, nos instantes em que leio e faço minhas orações antes de dormir, e isso conforta muito meu coração nessa longevidade.

São toques de amor que nos emocionam e nos soerguem para seguir com as luzes da fé e da esperança iluminando nosso caminho.

i XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2009. FEB, c. 70.

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