Entrevista com Henderson Marques Lopes
Nesta edição, a revista O Médium entrevista um dos grandes trabalhadores do Movimento Espírita de Juiz de Fora, Henderson Marques Lopes, que conta um pouco de sua experiência e seus ricos e pioneiros trabalhos junto à juventude e à infância e na divulgação do Espiritismo na região.
RM: Caro Henderson, fale um pouco sobre você.
Henderson: Nasci em Além Paraíba, cidade da Zona da Mata mineira, em 30 de setembro de 1943, o segundo de quatro filhos. Meu pai era ferroviário (oficial administrativo) da EF Leopoldina e minha mãe professora primária, ambos espíritas. Em maio de 1962, para estudar na Universidade, mudamo-nos para Juiz de Fora, que nos acolheu com muito carinho.
Profissionalmente, sou formado em Economia pela UFJF, onde ocupei, por 24 anos, o cargo de professor da Faculdade de Economia, e, ainda, na área administrativa, o de pró-reitor de Planejamento. Tenho mestrado em Filosofia pela UFJF e fui vice-presidente da Associação de Belas Artes “Antônio Parreiras”, instituição cultural fundada em 1934, em Juiz de Fora.
RM: Como foi o seu início no Espiritismo e no trabalho espírita?
Henderson: Como falei, nasci em família espírita. Aos 14 anos, comecei a frequentar a Juventude Espírita “Joaquim Cerqueira Porto”, do CE Amor em Deus, em Além Paraíba. Depois, em Juiz de Fora, estudei e trabalhei na Mocidade Espírita Venâncio Café, do CE União, Humildade e Caridade, no bairro Poço Rico. A “Venâncio Café” era, então, a única mocidade em funcionamento em Juiz de Fora, visto que as poucas existentes passavam por um período de paralisação já havia algum tempo. Existia, ainda, um grupo de jovens remanescentes dessas mocidades que se reunia aos sábados à tarde na antiga sede da AME/JF, na Rua Espírito Santo, 646, constituindo-se na então denominada ME de Juiz de Fora.
Para mim, o trabalho no Movimento Espírita começou aos 14 anos, na minha cidade natal, na condição de evangelizador (orientador) no CE Amor em Deus. Foi uma iniciação maravilhosa, tanto na “Escolinha” quanto na mocidade, que me traz ótimas lembranças, no convívio com pessoas excelentes, muito estudiosas e fraternas. Já em Juiz de Fora, na década de 1960, fui diretor do Departamento de Mocidade (DM) da AME/JF e presidente da ME Venâncio Café, do CE União, Humildade e Caridade. A partir de 1972, já casado, passei a frequentar o CE Amor ao Próximo, no bairro Mariano Procópio, onde estou até hoje. Neste centro, fundado em 1946, ocupei vários cargos da diretoria, tendo sido seu presidente por 17 anos. Atualmente, ocupo a 2a Secretaria desta instituição.
RM: Conte-nos um pouco do seu trabalho no Departamento de Mocidade da AME/JF, atualmente Departamento de Evangelização do Jovem.
Henderson: Eleito diretor do DM em janeiro de 1963, com mandato até janeiro de 1966, fui reconduzido ao cargo no final de 1966, terminando em janeiro de 1969. Resumidamente, nesse período, o trabalho realizado junto à equipe do DM pode ser assim descrito: a) Incentivo aos jovens, junto aos respectivos centros, para a reabertura das mocidades, então sem funcionar há algum tempo; b) Trabalho de criação de mocidades nas instituições que não as possuíam; c) Elaboração de aulas, pela equipe do DM, para os cursos juvenis (13-14 anos) e de pré-mocidade (15-16 anos) e trabalho pela sua implantação; d) Lançamento da página “Mocidade” na revista O Médium, para inserção de notícias administrativas e sobre trabalhos e estudos realizados pelas mocidades; e) Participação, em Manhuaçu (julho/1963), na I Confraternização de Mocidades Espíritas de Minas Gerais (I COMEMG); g) Organização e realização, em Juiz de Fora, da I Confraternização Regional de Mocidades Espíritas da Zona da Mata (I CORMEZOM), em abril de 1968.
RM: Você trabalhou muitos anos no DEC da AME/JF. Poderia nos relatar um pouco desse trabalho?
Henderson: Quando ainda morava em Além Paraíba, participei do I Curso Intensivo de Orientadores Espíritas de Crianças da Zona da Mata, organizado pelo DEC da AME/JF, em 1961, em Juiz de Fora.
Depois do DM, retornei ao trabalho junto à criança em 1971, na AME/JF, quando a inesquecível irmã Irene de Carvalho Oliveira era a diretora do DEC, com o apoio fundamental do querido irmão Edison Mega, então presidente da AME/JF, um pioneiro na área da evangelização espírita infantil nesta cidade.
O trabalho no DEC foi tão gratificante quanto o realizado no DM. Em ambos, as equipes eram vibrantes, estudiosas, amigas e bastante operosas. O trabalho que desenvolvi com a equipe do DEC, quando era seu diretor, pode ser assim resumido: a) Elaboração, orientação e distribuição de aulas para os evangelizadores dos ciclos Pré-Jardim, Jardim, I, II e III; b) Remessa de aulas às Escolas de Evangelização da região e de outras cidades do Brasil; c) Realização do VIII CIPO (Curso Intensivo de Preparação de Orientadores), em setembro de 1978, em Juiz de Fora; d) Realização do I MINI-CIPO, em Ubá (maio/1979), descentralizando o CIPO, permitindo que mais evangelizadores de outras cidades se beneficiassem, os quais, por diversos motivos, não participavam dos Cursos Intensivos realizados anualmente em Juiz de Fora. Em 1979, promovemos, ainda, outros MINI-CIPOs em Ponte Nova e Manhuaçu, reunindo evangelizadores das cidades próximas.
Com os irmãos Edison Mega, Irene de Carvalho Oliveira, Alcione Andries Lopes, Isa e Sebastiana Mega e Silvino Lawall, integrei a comissão encarregada de analisar e apresentar sugestões para o programa de aulas para a evangelização da criança, elaborado pela União Espírita Mineira, programa adotado até hoje. As sugestões foram apresentadas pela comissão, debatidas e aceitas durante o 1o Simpósio de Evangelização da Criança do Estado de Minas Gerais, ocorrido em julho de 1973, em Belo Horizonte.
Juntamente com minha esposa Alcione, participei do I Curso Intensivo de Preparação de Evangelizadores (CIPE), organizado pela FEB e realizado no Rio de Janeiro, em janeiro de 1977.
Permaneci no DEC até o início de 2011 e, a partir daí, fui chamado para assumir outras responsabilidades no Movimento Espírita. Foram quarenta anos dedicados ao trabalho junto à criança espírita.
RM: Você dirigiu e participou de quais outros trabalhos na AME/JF?
Henderson: Na qualidade de vice-presidente, fui, por disposição estatutária, presidente do Conselho Espírita Municipal (CEM). Minha alegria foi ainda maior pelo fato de ter presidido a primeira reunião do CEM na nova sede da Aliança, em 28 de fevereiro de 1982, antes mesmo da inauguração do prédio, que ocorreu em 14 de março.
Participei de várias comissões e gostaria de destacar especialmente uma, de 1986, relacionada à contribuição do Movimento Espírita de Juiz de Fora, por meio do CEM, encaminhada à Assembleia Nacional Constituinte (liberdade religiosa, aborto, eutanásia etc.). Durante os anos de 1993, 94 e 95, fiz parte do quadro de auxiliares do então Departamento de Serviço Assistencial (DSA) da AME/JF. Integrei, também, a comissão encarregada pela elaboração do vigente estatuto da Aliança.
Na área de divulgação espírita, fui supervisor da revista O Médium durante seis anos (jan de 1987 a dez de 1992). Faço parte do seu Conselho Editorial desde janeiro de 1993. Tenho um carinho muito especial pela revista. Fundada por Jesus de Oliveira em 1932, logo com quase 90 anos de idade, O Médium é uma das mais antigas publicações espíritas do Brasil, de circulação ininterrupta. Para chegar ao patamar em que se encontra, enfrentou problemas de variada ordem, entretanto, seus administradores e colaboradores seguiram e seguem em frente, sem esmorecimentos ou desânimos. Também com a força do Alto, dos bons espíritos e a confiança em Jesus, o trabalho prossegue firme, resoluto, determinado, colaborando no processo de mais rápida implantação da Boa Nova na face da Terra, para a felicidade de todos, à luz dos ensinos libertadores do Espiritismo. O Médium é um farol ajudando a iluminar o nosso caminho rumo à Luz Maior, a que todos estamos destinados!
RM: Como divulgador espírita, como foi e tem sido a sua trajetória?
Henderson: Além dos trabalhos junto à infância, à juventude e à revista O Médium, na área da exposição espírita, realizo palestras públicas e coordeno grupos de estudos.
O primeiro livro de minha autoria, editado com recursos próprios, foi publicado em 2014: “Memória Espírita – Datas Históricas e Personagens”. O segundo, publicado em 2020, denomina-se “Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora: uma História de União e Unificação”. Este foi editado com recursos da AME/JF, com cessão integral dos direitos patrimoniais (financeiros) para a Aliança. Atualmente, tenho dois novos livros prontos para publicação: um relacionado ao Apóstolo Paulo, suas viagens e seus colaboradores; o outro é um roteiro ou guia, com palavras-chave, destinado a expositores, escritores etc., para auxiliar no estudo das cinco obras básicas de Allan Kardec.
Agradeço aos caros leitores e aos irmãos dirigentes da querida revista O Médium pela atenção!