A Arte no Movimento Espírita de Juiz de Fora

Rogéria Olimpio

No mês de setembro foi enviado um formulário às instituições espíritas da cidade, que teve por objetivo fazer um levantamento das atividades artísticas desenvolvidas nas casas. Este levantamento é importante para que se conheça o que vem sendo produzido e, ao mesmo tempo, para fornecer subsídios que embasem futuras ações do setor de Arte do Departamento de Comunicação Social Espírita da AME/JF.

O formulário é composto de cinco perguntas: identificação e contato das instituições; atividades artísticas desenvolvidas; discriminação das atividades musicais, caso existam; e atividades artísticas (iniciativas individuais) desenvolvidas por frequentadores da instituição.

Conselheiros de 41 instituições espíritas da região constituintes do CEM/JF responderam ao questionário, o que corresponde a 68% do total. 

Como o objetivo da pesquisa é fazer um levantamento das atividades artísticas desenvolvidas na região, principalmente no que diz respeito à linguagem artística, ou seja, à possibilidade de comunicação através da arte, não estamos computando aqui as atividades artesanais desenvolvidas por algumas casas. Porém, deixamos registrado que, seja pelo caráter assistencial ou educativo, quatro centros realizam trabalhos artesanais.

Seguem alguns resultados interessantes:

Das instituições participantes da pesquisa, 16 afirmaram não desenvolverem nenhum tipo de atividade artística dentre as mencionadas (música, teatro, artes plásticas ou literatura), o que equivale a 39% do total das participantes.

Das 25 instituições que desenvolvem algum tipo de trabalho, duas afirmaram que existem trabalhadores da casa que desenvolvem trabalhos individuais, isolados de música e de pintura, mas não como trabalho da casa. Entendemos aqui, porém, como trabalho do centro aqueles que são definidos e normatizados pela instituição, fazendo parte do corpo de atividades normalmente desenvolvidas.

Somente em três casas encontramos atividades de produção literária, seja individual ou em forma de projetos, o que equivale a 7% do total das participantes.

Com relação aos trabalhos de pintura, desenho e escultura, apenas três centros desenvolvem este tipo de atividade, um deles a partir da evangelização infantojuvenil, através de pintura mural, refeita a cada dois anos.

No que se refere às atividades teatrais, cinco casas desenvolvem ou divulgam atividades deste tipo, o que equivale a 12% do total das participantes da pesquisa. Uma delas, periodicamente, traz grupos teatrais de fora da cidade para se apresentarem. Outra, a cada final de ano, apresenta uma peça teatral produzida pelos frequentadores da casa. 

A pesquisa mostrou que a maior parte das atividades artísticas desenvolvidas pelo Movimento Espírita da região, em 46% dos centros espíritas, se relaciona à música, utilizada principalmente como recurso didático-pedagógico nas aulas de evangelização ou na harmonização das palestras e passes. Apenas 12% – cinco casas espíritas – possuem corais ou conjuntos musicais.

Através dos dados fornecidos pela pesquisa, percebemos que há atividades artísticas nas instituições espíritas da região, mas de forma ainda aleatória e inconstante. Não existe uma proposta clara de utilização das variadas linguagens artísticas, o que indica uma possível ausência de conhecimento concreto da arte enquanto elemento educativo.

O campo da música, ao que se percebe, é o que possui mais facilidade de inserção, seja pelo caráter harmonizador que apresenta, seja pela possibilidade de aplicação aos trabalhos de evangelização da criança e do jovem.

Até mesmo o campo literário, que antigamente era tão desenvolvido e difundido no Movimento Espírita, tem apresentado um decréscimo nas suas atividades. Já as atividades plásticas normalmente são desenvolvidas apenas enquanto elementos de fixação da evangelização infantil.

Juiz de Fora é uma cidade com uma tradição artística muito grande. Talvez pela necessidade percebida durante o século XX de se normatizarem procedimentos, visando à consolidação do Espiritismo na região e no país como um todo, tenha ocorrido um distanciamento das atividades artísticas, vistas como potencialmente passíveis de serem associadas aos rituais de outras religiões ou a objetivos incompatíveis com a ética espírita. Todavia, estudos desenvolvidos em torno do campo da arte durante o mesmo século XX demonstram que as atividades artísticas são fundamentais para construir a integridade, a inteireza do indivíduo. O fato de serem utilizadas fora dos círculos espíritas com outras finalidades não impede seu aproveitamento. Neste sentido, a arte pode e deve ser utilizada de forma consciente nos processos de evangelização em geral, não somente da criança e do jovem, e também no sentido de sensibilizar e permitir a exteriorização geral das dádivas que a Doutrina Espírita nos permite desenvolver. 

Acreditamos que, a partir dessa leitura preliminar, possível de ser feita através da pesquisa realizada, possamos desenvolver e pensar ações que possam contribuir para o desenvolvimento e a melhor aplicação das atividades artísticas pelas instituições espíritas de nossa região. Devemos pensar em ações que possam facilitar a compreensão deste importante instrumento. As artes, enquanto possibilidades de expressão, são ferramentas eficazes no processo de elevação do Espírito, quando bem direcionadas e utilizadas de forma responsável. O artigo “Arte pura e arte terrena”, desta mesma edição da revista, complementa essas conclusões e destaca ainda mais a importância da arte para o Espírito imortal.

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