Entrevista com Lucy Ramos
Coluna “O Médium – 90 anos”
Para inaugurar a coluna que homenageará nossa publicação pelos seus 90 anos, convidamos uma pessoa muito especial e importante para a revista O Médium. Natural de Rio Novo, Minas Gerais, Lucy Dias Ramos foi supervisora da revista O Médium por 15 anos e também integrou o Conselho Editorial da publicação. Nascida em berço espírita, iniciou os trabalhos na doutrina ainda adolescente, em Barra do Piraí (RJ). É autora de 14 livros pelas editoras FEB, O Clarim, Solidum e Boa Nova e possui mais duas obras espíritas em andamento, aguardando publicação. Ela conversou com a revista O Médium e contou um pouco do seu trabalho no movimento espírita ao longo dos anos.
RM: Há quantos anos você é trabalhadora do movimento espírita?
Lucy: O primeiro cargo que ocupei foi o de secretária no Centro Espírita Bezerra de Menezes, em Barra do Piraí, na Mocidade Espírita Humberto de Campos. Aos 13 anos, participei do primeiro Congresso Espírita de Mocidades Espíritas, no Rio de Janeiro, tendo conhecido muitos jovens que depois se destacaram como trabalhadores do movimento. Essa participação foi muito especial em minha vida, pois ampliou minha visão sobre as inúmeras tarefas que poderíamos realizar. Em 1964, iniciei minhas atividades na Casa Espírita, em Juiz de Fora, à qual permaneço ligada até hoje. Nestes anos, fui presidente por duas vezes (1969 e 1974), diretora de departamentos, coordenadora de estudos e cursos, e também participei de outras atividades, como atendimento fraterno, tratamento magnético espiritual, tratamento espiritual da criança e palestras públicas.
Na AME/JF, fui secretária de 1984 a 1986 e fiz parte de trabalhos no Departamento de Difusão Doutrinária, com a publicação de artigos na revista O Médium, na década de setenta. Nessa época, foi criado o Departamento de Orientação Mediúnica (DOM) na AME e fui convidada por Suely Caldas Schubert a ajudar na organização e nas tarefas que seriam realizadas em diversos centros espíritas de Juiz de Fora e região.
RM: Quais funções exerceu nos trabalhos da revista O Médium?
Lucy: Foi justamente quando iniciei as atividades no Departamentos de Divulgação Doutrinária e no DOM, na década de setenta. Fui supervisora durante 15 anos e participei do Conselho Editorial, realizando análise dos artigos a serem publicados. Nesta fase, fui orientada por Henderson Marques Lopes, o que facilitou muito meu trabalho, devido à sua experiência e competência como professor.
RM: Como e quando surgiu a ideia de escrever artigos e livros espíritas?
Lucy: Sempre li muito e gostava de escrever. Tinha vários amigos escritores e poetas e os admirava muito. Destaco o poeta Sebastião Lasneau, que foi orientador da Mocidade Espírita Humberto de Campos, em Barra do Piraí. Nunca pensei em ser escritora, até que, em uma noite, sonhei com Chico Xavier. Ele era amigo de meus pais e eu o conhecia desde criança. Sempre busquei seus conselhos, quando tinha dúvidas sobre algum procedimento mediúnico, e ele sempre me atendeu com carinho. Neste sonho, suas palavras com relação às tarefas que eu tinha que desenvolver incluía a divulgação do que eu escrevia e guardava. Isso me motivou bastante. A partir daí, publiquei meus artigos em revistas e jornais espíritas, mas ainda sem coragem para escrever livros. Ao completar 70 anos, Carlos Augusto Abranches e minhas filhas Sandra e Valéria me surpreenderam com o livro Recados de amor, já aprovado pela FEB e lançado em 2005. É uma coletânea dos meus artigos já publicados, com comentários de alguns amigos do coração, como Suely Caldas Schubert, Alcione Andries Lopes, Emanoel Felício e minha filha Valéria, e com prefácio de Carlos Augusto Abranches. Este foi o primeiro dos 14 livros já publicados por mim.
RM: Além da revista O Médium, para quais outras revistas você escreve artigos ou escreveu?
Lucy: Escrevo e publico artigos desde 1970 nas revistas O Reformador (FEB), Revista Internacional do Espiritismo – RIE (O Clarim), Presença Espírita (LEAL), Aurora e no jornal O Clarim.
RM: Como surgiu o trabalho com a Terceira Idade?
Lucy: Em 1985, iniciei o Grupo da Terceira Idade na Casa Espírita, em Juiz de Fora. Fui motivada pelas dificuldades que percebi que algumas companheiras tinham no atendimento fraterno e em outros grupos de estudo ou trabalho, por se sentirem sozinhas e desmotivadas, devido à falta de diálogo, de oportunidades de exporem suas ideias e até um certo preconceito pela idade, ao integrarem certas atividades. Nessa época, a Prefeitura de Juiz de Fora iniciava um trabalho voltado para o idoso e fui convidada para participar de um seminário no Pró-Música, ministrado pela psicóloga Ana Lima, especialista na área. Conversei com ela e contei meu desejo de organizar um grupo na Casa Espírita. Ela me incentivou e se propôs a ajudar. Durante alguns anos, Ana apoiou o grupo, com a realização de dinâmicas e outras atividades. Com sua transferência para outra cidade, a psicóloga Denize Rabelo assumiu a função e está conosco até hoje.
RM: Existe algum fato ou história que foi importante em sua trajetória e que tenha influenciado suas atividades?
Lucy: Um momento muito importante em minha vida foi quando completei 35 anos. Já estava na Casa Espírita, desenvolvendo a mediunidade e iniciando muitas tarefas, mas gostava muito da área de divulgação espírita e cheguei a pensar que o trabalho na reunião mediúnica era muito difícil para mim. Lendo uma página de Emmanuel no livro Fonte viva (capitulo 70, Solidão), despertou em mim a responsabilidade do trabalho na área mediúnica, onde permaneci por 50 anos sem interrupção na mesma reunião na Casa Espírita. Todas as vezes que o desânimo tentava me afastar, eu ouvia meu guia espiritual repetindo: “você irá sempre encontrar desafios, mas não desista. Prossiga com fé. Estarei sempre ao seu lado nessa caminhada que assumimos juntos.” Hoje compreendo e agradeço a Deus as oportunidades que tive nessa existência para ressarcir débitos e realizar o roteiro que foi programado para o meu desenvolvimento moral.
Agradeço também à AME/JF pela oportunidade que me proporcionou ao longo da vida, de trabalho edificante, desde a sua antiga sede, passando por sua trajetória de lutas e vitórias nos anos seguintes, marcados por grandes mudanças e inovações na comunicação e divulgação do Espiritismo. Agradeço o ensejo de estudar e ampliar meus conhecimentos num ambiente fraterno e acolhedor.
À equipe atual da revista e às que a antecederam, minha gratidão. Estamos unidos pelos laços de amor e fraternidade, buscando os mesmos objetivos que sempre nortearam a Doutrina Espírita, o Consolador Prometido que devemos priorizar sempre, seguindo o roteiro que ilumina nossa trajetória à luz do amor incondicional. Muita paz!