Conversa à distância
Coluna “O Médium de ontem”
Martins Peralva
Publicado na revista O Médium no 187, de julho de 1955
O Espiritismo não faz exigências a quem quer que seja, adepto ou não.
A própria criatura é que, à medida que vai estudando, aprendendo e integrando-se à Doutrina, sente a necessidade de exigir algo de si mesma.
O sentimento de autorresponsabilidade começa a desenvolver-se e, então, por conta própria, começamos a catalogar nossas deficiências, maus hábitos, velhos costumes, esforçando-nos para renová-los e ajustá-los.
Se antes comprazíamo-nos em futilidades, com desperdício de tempo, começamos a valorizar esse patrimônio precioso que o Senhor nos concede por oportunidade de realização íntima.
O espírita é uma criatura normal, equilibrada, sem apresentar em sua personalidade singularidades que a tornem elemento à parte do organismo social.
Qualquer singularidade, com expressão de fanatismo ou intolerância, é incompatível com a bela Doutrina que nos enriquece o Espírito e nos ensina a valorizar as oportunidades disponíveis.
Se os deveres de ordem material nos proporcionam folgas ocasionais, a noção de responsabilidade, em face dos princípios doutrinários, leva-nos a empregar essa disponibilidade em ocupação construtiva. Visitar um enfermo, colaborar num centro espírita, tomar uma iniciativa em benefício do próximo, realizar uma hora de leitura sadia, escrever uma página edificante, praticar uma ação evangélica, são meios de valorização do tempo.
E a verdade é que poucos espíritas têm coragem de substituir qualquer uma destas atividades por uma hora de ocupação inexpressiva, fútil.
O Espiritismo não faz exigências a ninguém. O próprio indivíduo é que, à medida que a noção de responsabilidade vai se ampliando, começa a exigir algo de si mesmo, tudo na medida do possível, do razoável.
Começamos a pensar em Jesus e expressões como “àquele que muito recebeu mais será pedido” começam a insinuar-nos, bondosamente, como uma voz da própria alma, mostrando que a vida é um minuto dentro da eternidade e que todo minuto é precioso ensejo de elevação.
Sem adquirir singularidades, sem se tornar excêntrico, sem melindrar nem ferir a ninguém, o espírita vai afastando a mente das cogitações inferiores, onde estivera situada há milênios, polarizando-a no plano superior, mediante atividades edificantes. É o que sentimos no Espiritismo.