A contribuição espírita para a Ciência

André Luiz Peixinho

Um saber é reconhecido como científico quando preenche pelo menos alguns critérios fundamentais, entre os quais destacamos a caracterização de um objeto de estudo e a definição de um método de investigação. A Química, por exemplo, para adquirir identidade científica, definiu como seu campo de investigação os elementos constitutivos do universo material e seu método de estudo é experimental. De modo semelhante, o Espiritismo se constituiu como ciência tendo como objeto de estudo o Espírito ou princípio inteligente, substrato do universo espiritual.

Esta escolha do objeto de estudo pressupõe a necessidade de se investigar a existência do Espírito, suas interações com o mundo físico, suas vivências após a morte corporal, seu retorno à vida física e suas transformações evolutivas, para ressaltar algumas das questões mais relevantes. A natureza complexa do objeto de estudo da ciência espírita exigiu a constituição de um método de investigação experimental adaptado tanto à natureza do objeto, inteligente e dotado de vontade própria, como às questões em estudo.

 No início da história do Espiritismo, predominou a experimentação mediúnica, bem descrita por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns e por Léon Denis em No invisível. Com base neste modelo de investigação e em suas adaptações, foi possível realizar uma produção de conhecimento rigorosa, objetiva e sistemática, testando hipóteses, construindo leis e teorias, a partir da repetição de experimentos. Como acontece em qualquer ciência, essa produção esteve em constante reformulação, à medida que os fatos não se enquadravam nas explicações vigentes, até se constituir num corpo de princípios ou leis que valessem para todos os casos da mesma espécie que viessem a ocorrer nas mesmas condições.

Ao longo do tempo, muitas peculiaridades do objeto e dos instrumentos de estudo foram identificadas. Em primeiro lugar, lembramos que, por se tratar de um ser inteligente, o Espírito não está submisso aos desejos do pesquisador para a repetição dos experimentos a qualquer momento. E como eles são de diferentes graus de evolução, como constatou preliminarmente Allan Kardec, suas informações podem ser contraditórias ou revelarem diferentes graus de conhecimento, exigindo do pesquisador discernimento, bom senso e análise comparativa de informações com estratégias que separem o joio do trigo.

Além disso, as principais investigações espíritas iniciais foram realizadas no setor da comunicação mediúnica inteligente, exigindo a participação de médiuns e, consequentemente, necessitando de redobrados cuidados para minimizar a influência de seus inconscientes. Por outro lado, a comunicação mediúnica possibilitou o contato com estudiosos desencarnados, daí advindo uma parceria interexistencial e a obtenção de valiosas informações sobre questões de interesse em todos os ramos do conhecimento científico. Como destaques, citamos os livros Mecanismos da mediunidade, que introduz os conceitos da Física Moderna no estudo da comunicação mediúnica, e Evolução em dois mundos, que apresenta os ascendentes espirituais da evolução biológica – do Espírito André Luiz –; e A Caminho da luz, do Espírito Emmanuel, uma contribuição ao estudo das influências espirituais na história universal. As três obras foram psicografadas por Chico Xavier.

 Novos horizontes se abriram para a pesquisa espírita com a introdução das técnicas de regressão de memória e transcomunicação instrumental. A primeira delas devemos ao pioneirismo de Alberto de Rochas e aos trabalhos de Hermínio Miranda, no Brasil, posteriormente incorporados ao arsenal terapêutico da Psicologia Transpessoal. A segunda, em franco desenvolvimento na Europa e no Brasil, tem sido usualmente utilizada por não espíritas. Também devem ser destacadas as pesquisas de lembranças de vidas passadas, rotuladas no mundo acadêmico como memórias extra-cerebrais, que tiveram na figura de Hernani Andrade nosso maior expoente.

No momento histórico atual, é fundamental a reunião de pesquisadores para dar continuidade à investigação científica, atingindo áreas pouco exploradas, como o transformismo evolutivo e as influências espirituais em Saúde, Educação, História, Política etc. Isso exige a aplicação de recursos humanos e financeiros e a estruturação de espaços apropriados de pesquisa, a fim de manter em equilíbrio bem sucedido as produções de conhecimento de diferentes esferas culturais que a cosmovisão espírita pode abarcar: Ciência, Filosofia, Religião e Arte.

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