Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE) completa 20 anos
Entrevista com Marco Milani
A LIHPE é uma comunidade virtual que reúne historiadores e pesquisadores, espíritas ou não, acadêmicos ou não, que se interessam pela pesquisa do Espiritismo ou do Movimento Espírita. Fundada em 17 de março de 2002 por Eduardo Carvalho Monteiro, tem o objetivo de possibilitar a troca de material, atender a demandas dos participantes e aproximar pessoas, por meio de pesquisas relacionadas ao Espiritismo.
Para conhecer melhor essa importante iniciativa, que completa 20 anos, a revista O Médium entrevistou Marco Milani, pesquisador, expositor e escritor espírita, e uma das lideranças da Liga.
OM: A LIHPE completa 20 anos em 2022. Poderia nos contar um pouco sobre sua fundação e seu fundador?
Marco: Eduardo Carvalho Monteiro tinha por objetivo inicial reunir pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, acadêmicos ou não, que se debruçavam sobre a temática espírita, sendo espíritas ou não. Enquanto memorialista, gostava muito da parte histórica do Espiritismo, sempre se dedicando à preservação da memória do Movimento Espírita. Daí o nome original do grupo ser Liga de Historiadores e Pesquisadores do Espiritismo. Como todo historiador é também um pesquisador, optamos por excluir essa palavra da expressão, porém sem retirar o “H” da sigla, que permanece como lembrança e homenagem a seu fundador, hoje já desencarnado.
Além de psicólogo e trabalhador da União das Sociedades Espíritas de São Paulo (USE), Eduardo publicou 40 livros, dos quais 30 são sobre a história do Espiritismo, incluindo biografias de Allan Kardec, Léon Denis e Cairbar Schutel. Também foi um dos fundadores do Centro Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo (CCDPE), que também reúne pesquisadores do Espiritismo, mas que tem por objetivo armazenar adequadamente livros, áudios, filmagens e documentos históricos.
OM: Parece-nos que a proposta da LIHPE retoma a postura de Kardec, sempre atento à pesquisa metódica e ao diálogo com outros campos do conhecimento. Essa impressão é correta?
Marco: Sim. Kardec esteve aberto a esse intercâmbio, assim como a LIHPE, ainda que sempre fiel às bases e valores espíritas. Para a Liga, o importante é a pesquisa da temática espírita, pela união de diversos olhares. Contamos com pesquisadores das áreas de Saúde, Exatas e Humanas, o que permite diferentes abordagens, dado que cada uma tem seus métodos e protocolos específicos. Todavia, predominam ainda as pesquisas históricas, o que vem se modificando com o tempo na direção de um equilíbrio quanto à representatividade das variadas áreas do conhecimento.
OM: Há alguma relação da LIHPE com universidades e o meio acadêmico em geral? Como é esse relacionamento?
Marco: Não existe um vínculo formalizado com o meio acadêmico, mesmo porque a Liga não é uma instituição estabelecida juridicamente, mas uma rede de pesquisadores que podem ou não ter ligação com universidades. Logo, não há nenhuma espécie de convênio ou parceria com elas. Contudo, a LIHPE proporciona um ambiente adequado à reunião e à divulgação de trabalhos desses estudiosos, o que, de certa forma, representa certa ligação com o meio acadêmico.
OM: A LIHPE tem se mostrado mais influente sobre o meio espírita ou sobre o meio acadêmico? Por quê?
Marco: Sem sombra de dúvidas, sobre o meio espírita, mesmo porque a divulgação de seus trabalhos é predominantemente feita no ambiente espírita. Entretanto, há casos em que pesquisas apresentadas inicialmente à LIHPE acabaram tendo desdobramentos acadêmicos, por meio de seus autores, em dissertações, teses e artigos. Nesse sentido, entendemos como apenas indireta a influência da Liga nesse meio.
OM: Já foram realizadas 16 edições do Encontro Nacional da LIHPE (ENLIHPE). Em sua análise, podemos perceber alguma mudança nesse período com relação às pesquisas e ao interesse do Movimento Espírita por elas? Vocês têm registro da taxa de expansão da LIHPE ao longo desse período?
Marco: Nesses 20 anos, a grande mudança que percebemos decorre da evolução dos meios tecnológicos, que muito têm facilitado a aproximação dos pesquisadores. O ENLIHPE nos mostra isso. Enquanto Eduardo buscava esse contato através de cartas, telefone e, de forma incipiente, e-mails, hoje em dia o contato se torna imediato. Grupos de pesquisadores podem interagir a distância, on-line, o que facilita autorias conjuntas, hoje bem mais comuns que antigamente, naturalmente promovendo maior aproximação. Com relação às temáticas, predominam trabalhos nas áreas de Saúde, Ciências Sociais, Literatura e Educação, enquanto escasseiam os do campo das Exatas.
O interesse do Movimento Espírita tem crescido com o aumento da divulgação da Liga, que agora também está presente nas redes sociais. Ademais, os próprios pesquisadores fazem a promoção de seus trabalhos, divulgando conjuntamente nossos eventos. Além disso, se, nos primórdios, Eduardo conseguiu reunir aproximadamente 200 pessoas que usualmente se comunicavam, hoje, sem preocupação com o número de associados, essa interação é muito mais intensa, o que entendemos como indício de sua expansão.
OM: Quais são os próximos projetos e iniciativas da LIHPE?
Marco: A Liga tem buscado fortalecer seus laços com o CCDPE, com previsão de proporcionar cursos, atividades, maior divulgação científica e orientação à pesquisa espírita. Já temos uma parceria com a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE) na promoção de um curso sobre o que é ciência espírita. Futuramente, queremos promover capacitações sobre o método científico, a fim de ajudar pessoas que ainda não são familiarizadas esta técnica a construir um trabalho adequado cientificamente. Ademais, já estamos buscando diálogos e aproximações com grupos de pesquisa dentro e fora do país, e queremos ampliar e fortalecer esta prática.
Contato LIHPE: contato@lihpe.net