Como ganhar a vida eterna?*
Alcione Andries Lopes
Em linguagem neotestamentária, “ganhar a vida eterna” ou “entrar na posse do Reino” significa evoluir espiritualmente, alcançando a perfeição relativa a que estamos destinados.
Trazemos essa perfeição em germe, enquanto filhos e herdeiros de Deus, e vamos cumprindo a Lei do Progresso usando vontade, livre-arbítrio, conhecimento e circunstâncias externas, em processo que se estende no tempo sem fim, por meio de diversos mecanismos. A encarnação é um desses recursos conhecidos para a nossa integração crescente no projeto de Deus para Suas criaturas. É o que lecionam os Espíritos da Codificação na questão 132 de O Livro dos Espíritos:
Deus impõe aos Espíritos a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição e também para pô-los em condições de suportar a parte que lhes toca na obra da criação.1
A pergunta que elaboramos para intitular este artigo foi inspirada em palavras de Jesus registradas por Lucas em suas anotações e se refere aos recursos necessários ao aproveitamento das oportunidades de crescimento espiritual que a encarnação nos oferece, sobretudo nestes tempos desafiadores da Grande Transição.
Elegemos o versículo 19, no qual o Mestre explicita UMA das virtudes essenciais a serem cultivadas no entendimento e na ação, a fim aproveitarmos O MÁXIMO das oportunidades de redenção e aprendizado que a reencarnação nos enseja.
Nossa escolha deve-se, também, ao fato de essa qualidade espiritual não ser tão compreendida e valorizada quanto deveria, embora tenha extrema importância para vencermos os desafios que se avolumam nos tempos provacionais definitivos que vivemos, quando campeiam, avassaladores, a ansiedade, o temor, o desespero, a depressão e as fugas espetaculares.
Selecionamos duas passagens do Novo Testamento para embasar nosso raciocínio e convidamos o leitor amigo a refletir conosco sobre essa virtude capital abordada nas duas ocasiões como indispensável ao aproveitamento máximo da reencarnação, tornando perfeita a obra programada para a nossa evolução na existência atual. Identifiquemos, então, a virtude excelente!
Jesus, antecipando aos discípulos as provações e testemunhos que viriam a médio e longo prazo no processo evolutivo da humanidade, esclarece, adverte e recomenda: “contudo, não perdereis nem um fio de cabelo da vossa cabeça. Com vossa paciência, ganhareis (possuireis) vossas almas.” (Lc, 21: 18-19)
A outra passagem é uma citação atribuída a Tiago, chamado o “irmão do Senhor”. Sua carta é conhecida como a primeira das ditas gerais, ou seja, dirigida a todas as comunidades cristãs, e tem um colorido de ditos sapienciais e de exortações de caráter moral em que a fé precisa estar vinculada a obras que a confirmem: “irmãos, tende por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provas, pois sabeis que, ao ser provada, a fé produz paciência, a paciência torna a obra perfeita e assim sereis perfeitos e íntegros, sem nenhuma deficiência.” (Tiago, 1:2-4)
Paciência, paciência, paciência!… Afinal, o que é paciência e como ela pode contribuir para que os objetivos da encarnação sejam alcançados em sua totalidade? Por que seria esta virtude indispensável ao cumprimento integral de nossa programação reencarnatória?
Assevera o benfeitor Emmanuel, no capítulo “Filhos de Deus”, da obra Segue-me!, psicografada por Francisco Cândido Xavier:
Ter paciência não será sorrir para as maldades humanas, nem coonestar suas atividades indignas, sobre a face do mundo. (…) Ter paciência será resistir aos impulsos inferiores que nos cerquem na estrada evolutiva, conduzindo todo o bem que nos seja possível aos seres e coisas que se achem diante de nós, como a representação desses mesmos impulsos.2
O instrutor espiritual Gúbio, falando a André Luiz sobre ser a evolução um processo educativo, assevera, no capítulo 2 de Libertação: “educação para a eternidade não se circunscreve à ilustração superficial de que um homem comum se reveste, sentando-se, por alguns anos, num banco de universidade – é obra de paciência nos séculos.”
Na obra Sexo e Destino, visitando o Instituto Almas Irmãs, hospital-escola voltado para a reeducação sexual e donde partem vários Espíritos para a reencarnação na Terra, com programação elaborada segundo suas necessidades e possibilidades de redenção e crescimento, André Luiz é informado que “de uma população oscilante de cinco a seis mil pessoas, no coeficiente de cada cem estudantes, dezoito retornavam vitoriosos nos compromissos da reencarnação, vinte e dois melhorados, vinte e seis muito imperfeitamente melhorados e trinta e quatro onerados por dívidas lamentáveis e dolorosas”.
Independentemente do aspecto predominante em nossas necessidades de reeducação, seja em relação ao narcisismo, ao poder, ao dinheiro, ao sexo ou outra qualquer expressão de imperfeição natural ou buscada, a Terra nos é abençoado hospital-escola e a ela voltamos inúmeras vezes, em oportunidades redentoras e iluminativas que, às vezes, nos parecem não ter fim! E por que isso acontece? Resposta completa a esta indagação o amigo leitor encontrará em O céu e o inferno, de Allan Kardec, na primeira parte, capítulo VII (Código penal da vida futura).
Paciência, paciência, paciência!… Estas são, amigo leitor, nossas considerações despretenciosas sobre assunto que tão de perto falam ao coração de quantos estejamos buscando, conscientemente, entrar na posse do Reino, ainda que passando pela porta estreita. Oferecendo-as à sua análise e meditação, esperamos que lhe despertem o interesse por um aprofundamento na temática, o que, sem dúvida, muito poderá enriquecer-lhe os esforços na jornada iluminativa!
* Dedicamos este artigo ao companheiro querido Henderson Marques Lopes, que, em julho passado, retornou à pátria espiritual em consequência do agravamento do quadro de insuficiência cardíaca. Fazêmo-lo como um presente do coração, já que Henderson completaria 80 anos em setembro. O tema “paciência” sempre esteve em suas reflexões, pontificando, para ele, como uma das virtudes mais preciosas, a qual buscou consolidar, com ousadia, portas na alma, exemplificando, com muita dignidade, sua conquista ao longo de nossa convivência diária de 55 anos e, muito especialmente, com superior dedicação durante o período da enfermidade. Como Henderson sempre teve um cuidado carinhoso com a revista O Médium durante décadas, fosse como supervisor, colunista, conselheiro editorial ou auxiliar de expedição, agradecemos à direção da AME/JF por publicar este artigo, o qual temos certeza que o deixará feliz quando o ler e sentir as vibrações de reconhecimento e gratidão com que lhe envolvemos o coração de obreiro valoroso!