Crimes hediondos e a lei de Ação e Reação
Coluna “O Médium de ontem”
Suely Caldas Schubert
Publicado na revista O Médium no 583, de maio/junho de 1995
O pensamento espalha nossas próprias emanações em toda parte a que se projeta. Deixamos vestígios espirituais onde arremessamos os raios de nossa mente, assim como o animal deixa no próprio rastro o odor que lhe é característico, tornando-se, por esse motivo, facilmente abordável pela sensibilidade olfativa do cão.
Nos domínios da mediunidade, c. 26, André Luiz/Chico Xavier
Chacinas, crimes hediondos, perversões, violência de toda sorte com crueldade impactam a opinião pública e, diante dessas dramáticas ocorrências, os espíritas são muito procurados para esclarecer as causas que levam a tanto.
Lei de ação e reação, causa e efeito, resultado do passado, expiações e carma são, enfim, as respostas habituais, mas nem sempre devidamente aprofundadas.
É evidente que esses mecanismos da justiça divina são pouco conhecidos das pessoas em geral. E mesmo para o espírita, às vezes fica difícil entender e aceitar as explicações diante de crimes hediondos, por exemplo, apesar de todo o acervo que a Doutrina Espírita coloca ao nosso alcance. Não é raro ouvir-se dizer: “ninguém merece passar por tal crueldade”. Realmente é quase impossível supor que alguém mereça um castigo dessa ordem. Fica, então, para muitos, a dedução de que Deus é injusto, por impor castigos tão cruéis aos seres humanos.
Fato é que as pessoas pouco conhecem das leis divinas e, por isso mesmo, projetam no Criador as suas próprias imperfeições, tendo-o como ser vingativo ou benevolente, capaz de castigar e premiar de acordo com as circunstâncias ou o seu variável humor. Por essa razão, torna-se difícil a compreensão da lei de ação e reação nos seus intrincados meandros.
O Espiritismo, todavia, projeta luz sobre essas questões, propiciando o entendimento para quantos o estudem e apliquem, seja na vivência de cada dia, seja observando-se todo o quadro evolutivo do ser humano desde o homem primitivo até os nossos dias.
Há uma questão de primordial importância, que é bem pouco considerada e estudada. Trata-se do pensamento e da força do sentimento que o reveste. Pensamento e sentimento expressam a vida das criaturas humanas sob o comando da vontade.
A vontade reflete a opção pessoal que irá direcionar a conduta de cada um. De acordo com essa preferência ou escolha, o pensamento vibrará em variáveis frequências, expressando o teor de sentimentos que o animam.
Cada indivíduo é, portanto, a soma de todas as suas aquisições pessoais ao longo dos tempos e esses traços característicos de sua personalidade repercutem vibratoriamente, formando a sua psicosfera pessoal. Aprofundando este tema, o instrutor espiritual Camilo, no capítulo 18 de seu livro Educação e vivências, de 1995, psicografado por Raul Teixeira, esclarece:
Não são poucos os casos em que as almas que desenvolveram atitudes de dom-juanismo em vidas pretéritas, tendo causado danos a si mesmas e a terceiros, ou pessoas que desbragaram no campo das energias sexuais, promovendo escândalos morais de destaque ou não, costumam reencarnar depois de tudo isso, trazendo o seu odor libidinoso, sua aura assinalada por fortes elementos atraentes de outras criaturas de idêntica inclinação moral, capazes de sofrer, na atualidade, as investidas para as quais têm o campo energético predisposto.
Não é por outra razão que verificamos situações de assédio ou agressões sexuais sofridas por crianças, jovens ou idosos, femininos ou masculinos, com largo espectro de justificativas da formal psicologia, tendo tudo isso, porém, por base, as vivências malsinadas do pretérito, ressumando no agora as drásticas consequências.
São as próprias almas, ora reencarnadas em qualquer faixa social ou etária, que carregam ao redor de si o campo instigador dessas atrações, vinculando-se, sempre, a indivíduos que exteriorizam energias similares, pois na esfera do Espírito, os similares se atraem.
O trecho transcrito está em perfeito acordo com a afirmativa de André Luiz, que colocamos em destaque.
Camilo (Espírito) refere-se, pois, à lei da atração magnética que rege os encontros e desencontros entre as pessoas, e as consequências trágicas que podem advir dos relacionamentos humanos em condições de desequilíbrio.
O que ressalta, neste caso específico sob nosso enfoque, é que cada indivíduo deixa, em sua trajetória, como que um rastro peculiar onde as emanações que ressumam do seu mundo íntimo são elementos de atração para o que com ele se afinam. Na aura se estampam as preferências, as peculiaridades, o “desejo-central” facilmente detectado pelos similares encarnados ou desencarnados.
É o que Allan Kardec denomina fotografia do pensamento, no item 15 do capítulo 14 de A Gênese: “criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como um espelho; toma nele corpo e aí, de certo modo, se fotografa”. Afirma o Codificador que é exatamente por esse processo que uma “alma pode ler outra alma como num livro” e finaliza explicando que assim se exteriorizam “a preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus”.
Devido ao atraso evolutivo da Humanidade, ainda reencarnam no planeta criaturas com graves comprometimentos espirituais, em grande número, e, por processos de afinidade de intenções, preferências e conduta, acabam por se aproximarem. Também os cúmplices de antigos crimes, rivais, inimigos ferrenhos, que retomam o caminho da crueldade, da vingança, em meio ao ódio e a instintos inferiores dos quais não se libertam e, até mesmo, ainda cultivam.
Vale lembrar que muitos crimes hediondos ocorrem em nível coletivo, social, tais como os atos de brutalidade e selvageria de terrorismos, das máfias espalhadas pelo mundo e, em última análise, os milhões de seres humanos que morrem diariamente vitimados pela fome, pela seca, pela miséria em todos os níveis.
Psicopatas, criminosos de alta periculosidade, vingadores, torturadores, ontem ou hoje, transitam pelas ruas do mundo, encarnados ou desencarnados, deixando no próprio rastro as emanações de seu psiquismo atormentado, que somente se modificarão à custa de muitas lágrimas, já que se fecham, por enquanto, às sugestões do bem, da paz e do amor.
Em contrapartida, embora em número reduzido, que suave perfume evola daqueles que vivem para o bem, promovendo a paz, esparzindo amor e caridade!
Sabemos, por exemplo, que Scheilla, ao se aproximar, perfuma o ambiente com odor de rosas; Frederic Chopin, com o de violetas orvalhadas; Eurípedes Barsanulfo, o de malvas úmidas de orvalho ou de jasmim – para citarmos apenas alguns benfeitores espirituais.
Importa refletir, a esta altura, quanto à nossa conduta, quanto às nossas preferências, quanto ao teor dos nossos pensamentos, para termos uma ideia da psicosfera ao nosso redor e que tipo de atração exercemos.
Joanna de Ângelis exorta: “vive, de tal forma, que deixes pegadas luminosas no caminho percorrido, como estrelas apontando o rumo da felicidade” [referência não localizada]. E, em seu livro Educação e vivências, que recomendamos aos leitores, Camilo aponta a rota segura para alcançarmos essa condição.