Memórias de Suely Schubert em relação à AME/JF
Humberto Schubert
À convite da revista O Médium, e em homenagem ao encerramento da passagem de minha avó Suely Caldas Schubert pelo plano carnal, reuni algumas impressões que dela recebi ao longo da vida acerca da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora, na qual ela atuava desde antes do meu nascimento.
Não falo, portanto, com a experiência de quem dividiu com ela essas tarefas, mas a partir das impressões que adquiri filtradas pela sua percepção dos acontecimentos. Peço perdão, portanto, se minha ignorância sobre fatos ou pessoas prejudicar a acurácia histórica do relato, e observo que esse é um memoir e não um documento histórico.
Muito saudosa e orgulhosa da atuação de seus pais, que eram excepcionalmente engajados desde os anos 1940, Suely reportava-se à AME/JF como um espaço histórico de unificação das atividades e confraternização dos espíritas. Frequentemente, destacava a influência de seu pai, José Caldas, junto a, principalmente, Edison Mega e Isaltino Silveira, na reconfiguração da AME/JF, ao longo das décadas de 1960 e 1970. Sem dispor de amplos recursos próprios, os três coordenaram forte campanha de arrecadação, com extraordinário sucesso. Sendo bancário e muito bem relacionado, meu bisavó José Caldas trabalhou como tesoureiro em seu centro (Ivon Costa) e na AME/JF. Suely também destacava que, além de muito prudente com as finanças, José “sabia pedir”, e conseguiu algumas doações volumosas que permitiram à AME/JF não apenas se instalar na rua Espírito Santo, mas também, mais tarde, ajudar nas negociações para a construção da sede atual, o edifício Allan Kardec.
Com talentos e disposições bem distintos, Suely viria a contribuir muito menos com as atividades materiais e muito mais com as atividades teóricas e espirituais do Movimento Espírita. Desde 1962, suas relações com o médium, escritor e orador Divaldo Franco se intensificaram, criando o ambiente para frequentes visitas do mesmo a Juiz de Fora. Suely considerava a organização dessas dezenas de eventos, ao longo de mais de 50 anos, como uma atividade fundamental, e não economizava esforços para que fosse mantida. Sua atividade mediúnica chamava atenção, mas não produziu a notoriedade que viria com a carreira literária e a atuação na AME/JF e depois na FEB. Em meados dos anos 1970, formou-se o grupo que viria a constituir o time da geração de Suely: José Passini, Ronaldo e Elaine Tornel.
A partir dessa época, Suely passou a contribuir com uma série de iniciativas de difusão da Doutrina Espírita e qualificação de trabalhadores, notadamente da mediunidade. Escreveu uma apostila para a AME/JF, que, após significativa repercussão, gerou um convite da FEB para seu primeiro livro, Obsessão/Desobsessão.
Do começo da década de 1980, datam as importantes amizades com Lucy Ramos, Armando e Kátia Falconi, Vitor Silvestre e tantos outros, com os quais trabalharia intensamente ao longo dessa década, sempre com destaque para a mediunidade, aplicação da mesma para o bem-estar e a promoção da saúde mental, e, como sempre, divulgação da Doutrina Espírita.
Suely continuou a fazer parte do quadro da AME até o começo dos anos 2000, ampliando a lista de amizades e parcerias com outros integrantes da instituição como Alcione Lopes, Guto Abranches, Emanoel Felício, Trindade Arcanjo, Abigail Guedes e Consolação Muanis.
Ao longo de toda a sua atuação na AME, cabe destacar, ela buscou contribuir com textos, convidar outros articulistas e promover a revista O Médium, no limite de suas capacidades. Em uma de suas múltiplas visitas a Juiz de Fora, Divaldo Franco teria afirmado a ela que a AME/JF era uma instituição modelo para todo o país.