Magnetização mental
Coluna Revista Espírita em destaque
Ricardo Baesso de Oliveira
Um dos recursos fluidoterápicos disponível no arsenal terapêutico espírita é a irradiação a distância. Um grupo de espíritas se reúne e, através da prece e do pensamento direcionado às forças do bem, mentaliza um enfermo, desejando ardentemente sua recuperação. Resultados favoráveis têm sido observados pelos tarefeiros espíritas. Kardec denominou tal prática terapêutica de magnetização mental e referiu-se a ela, possivelmente pela primeira vez, em um texto de janeiro de 1863 da Revista Espírita.
Tratava-se do caso de uma mocinha que se casara com um homem com quem não simpatizava. A mágoa que isso gerou levou-a a um distúrbio mental. Dominada por uma ideia fixa, perdeu a razão e seus parentes se viram obrigados a interná-la. Um membro da Sociedade Espírita de Paris, amigo da família, julgou dever interrogar um Espírito superior, que respondeu:
A ideia fixa dessa senhora, por sua própria causa, atrai à sua volta uma multidão de Espíritos maus, que a envolvem com seus fluidos e alimentam suas ideias, impedindo que cheguem até ela as boas influências. Os Espíritos dessa natureza abundam sempre em meios semelhantes ao em que ela se encontra e, muitas vezes, constituem obstáculo à cura dos doentes. Contudo, podereis curá-la; mas, para tanto, é necessário uma força moral capaz de vencer a resistência. E tal força não é dada a um só. Que cinco ou seis espíritas sinceros se reúnam todos os dias, durante alguns instantes e peçam com fervor a Deus e aos Espíritos bons que a assistam; que a vossa prece fervorosa seja, ao mesmo tempo, uma magnetização mental; para tanto, não tendes necessidade de estar junto a ela; ao contrário: pelo pensamento podeis levar-lhe uma salutar corrente fluídica, cuja força estará na razão de vossa intenção, aumentada pelo número. Por tal meio podereis neutralizar o mau fluido que a envolve. Fazei isto; tende fé e confiança em Deus e esperai.
Seis pessoas se dedicaram a essa obra de caridade e, durante um mês, não faltaram sequer um dia à missão que haviam aceitado. Ao cabo de alguns dias, a doente estava sensivelmente mais calma. Quinze dias mais tarde, a melhora era manifesta e, pouco tempo depois, a mulher voltou para casa em estado perfeitamente normal, ignorando ainda, como seu marido, de onde lhe adveio a cura.
Algumas lições podemos extrair do relato:
1. Kardec admite que, mesmo a distância, podemos carrear fluidos curativos. Os resultados terapêuticos no caso apresentado foram notáveis;
2. As enfermidades orgânicas são fatores predisponentes às influências espirituais negativas. Assim, o tratamento espírita é sempre indicado;
3. Kardec reconhece como obra de caridadea transmissão de fluidos curativos;
4. Como existem pessoas boas, solícitas e de boa vontade! Durante trinta dias, os seis espíritas se reuniram diariamente em benefício da jovem, sem faltar um único dia;
5. Estudar a Revista Espírita nos coloca diante do movimento de construção do Espiritismo, no qual relatos tão relevantes como este são apresentados.