Quebra de paradigma
O saber e o conhecimento não têm limites
Rogério Coelho
“(…) O que é, exatamente por ser tal
como é, não vai ficar tal como está”.
Brecht
Em sua notável obra “Estrutura das Revoluções”1, Thomas Kuhn diz que o desenvolvimento do pensamento científico não se dá por acumulação de conhecimento, mas por transformação radical dos conceitos vigentes, fenômeno a que os entendidos chamam de “quebra de paradigma”.
O saber e o conhecimento não têm limites… É por isso que em filosofia as respostas estão sempre gerando novas perguntas e, consequentemente estabelecendo novos paradigmas, ampliando e abrindo o leque tanto da Ciência pura quando do conhecimento pelo conhecimento.
Como exemplo clássico disso temos na psicologia, principalmente com Jung e Adler, dissidentes do mestre vienense, os dois grandes mestres que tiveram a coragem de discordar dos aspectos estruturais do corpo da psicanálise, ampliando as observações clínicas que propiciaram uma maior eficiência no tratamento de variadas psicopatologias. Portanto, eles se inserem no conjunto de nomes que deram origem à construção de novos paradigmas no campo da psicologia.
É preciso coragem para implodir um paradigma assentado, cimentado pelos interesses e preconceitos vigentes e substituí-lo por um novo, mais eficiente e completo. Não é fácil quebrar as estruturas do “status quo” …
Na área da religião, o Espiritismo realizou tal tarefa: Ele implodiu e reduziu a pó as velhas e ancilosadas estruturas dogmáticas, inaugurando o primado do Espírito com toda a independência de seu livre arbítrio e retorno de suas consequências, dando vigor e sustentação aos ensinamentos de Jesus que foram, por tantos séculos, deturpados, amputados e adulterados pelos interesses subalternos dos ecônomos infiéis.
Não resta dúvida que o nome de Allan Kardec será arrolado entre os Espíritos de escol que reencarnaram na Terra para, com o seu brilhantismo, oferecer decisiva contribuição para o desenvolvimento científico, filosófico e principalmente religioso da humanidade.
Derruindo os mitos e as superstições medievais, Kardec emancipou o raciocínio humano que agora pode avançar, sem peias, além das fronteiras da “letra que mata” e alcançar o zênite do “espírito que vivifica”2.
O homem, desde as mais prístinas eras do horizonte agrícola, vem construindo altares aos ídolos que passavam a adorar em função das fobias existenciais. Buscavam, na verdade, na vacuidade e apoucamento de suas mentes, simples “muletas” psicológicas nas quais tentavam “escorar” a sua anêmica fé apartada da razão.
De paradigma em paradigma, acompanhamos a mudança de altares: dos sacrifícios de animais e até humanos, nos transferimos do paganismo ao Cristianismo e ainda continuamos erguendo lucrativos altares materiais no imoral comércio simoníaco.
Do democrático panteão romano com seus trinta mil deuses, passamos para a terrível, venal, arbitrária e cruenta “Santa” Inquisição e continuamos longe do caminho assinalado por Jesus à Samaritana, quando revelou que para a verdadeira adoração ao Pai não se fazia necessário templo de pedra, uma vez que a legítima adoração consiste na elevação do pensamento2 até Ele.
Quando Jesus afirmou que o Pai seria adorado em Espírito e Verdade pelos verdadeiros adoradores, Ele estava desvelando os futuros proscênios da Era do Espírito.
Eis aí um paradigma indestrutível, erguido sobre a rocha da lógica, porque tem sustentação divina. Está chegando ao fim o tempo dos lucrativos altares e das inócuas oferendas materiais…
O imarcescível paradigma espírita ficará conosco para sempre, levando-nos em segurança pela estrada da evolução, sem a ingerência dos atravessadores da fé, que outra coisa não eram senão cegos guiando cegos.
Bem provável é que, por transformar – radicalmente – os conceitos vigentes, um século e meio depois de seu advento, somente a mínima parcela de 0,19% da população mundial tenha acoroçoado o Espiritismo, já que a acomodação e a indiferença ainda constituem a tônica do ser humano. Mas, sem embargo, com a queda dos paradigmas vigentes ante o sopro da razão, chegará o tempo de estar toda a humanidade do nosso Orbe 100% dentro de um só rebanho, sob a égide de um só Pastor: Jesus!…
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1 – KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas
2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 649.