Marketing digital espírita (1ª parte)

Daniel Salomão Silva/Rafaela Doro Rodrigues

No final do nosso texto publicado na edição anterior, destacamos a recomendação de Kardec de que “dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo; estes são: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de popularizá-la”[1]. Naturalmente, entendemos sua popularização como não proselitista, ou seja, sem pretensões de disputa ou convencimento, mas de modo amplo e acessível a quem deseje. Nesse sentido, consideramos nobre toda preocupação em divulgar a mensagem espírita de forma agradável e compreensível, atraente e interessante, sem abrir mão da ética cristã. Logo, sem qualquer tipo de enganação ou exagero.

Segundo o dicionário, “marketing”, palavra da língua inglesa já importada pelo nosso idioma, é o “estudo das atividades comerciais que, partindo do conhecimento das necessidades e da psicologia do consumidor, procura dirigir a produção adaptando-a ao melhor mercado”[2].Logo, a partir dos resultados de alguns desses estudos, a despeito das expressões mercadológicas acima, é possível elaborar estratégias para melhor divulgação dos trabalhos e eventos espíritas, particularmente pelos meios digitais. Nesse texto, dividido em duas partes, apresentamos sugestões para o aumento do envolvimento social e do interesse em nossas publicações, e para o uso adequado de imagens em cartazes e posts. Nesta primeira parte, baseamos nossas conclusões principalmente na obra de Philip Kotler, citada ao final.

  1. Especificidade

Os temas desenvolvidos pelos vários departamentos da AME/JF, apesar de importantes para todo o Movimento Espírita, têm ou deveriam ter públicos-alvo específicos, já que a maior parte dos trabalhadores espíritas abraça, em geral, apenas algumas das áreas de trabalho simultaneamente. Desta forma, entendemos como relevante que essa especificidade seja demonstrada já na divulgação do trabalho, de forma a despertar real interesse e maior garantia de satisfação no público, que saberá mais precisamente o que vai encontrar.

Entre as boas ações nesse sentido, é recomendado:

  • Não centralizar a divulgação no expositor, mas na temática e no público-alvo. Ainda que certos trabalhadores tenham preferência por determinados expositores, nossa maior preocupação deve ser com a divulgação do tema;
  • Descrever sinteticamente e com simplicidade o evento/trabalho, pois hoje não se dá muita atenção a textos de divulgação longos e complexos;
  • Escolher o público-alvo e direcionar a divulgação a ele, levando em consideração suas particularidades. Para isso, devemos apresentar mais informações no post/legenda/descrição do evento. Essa prática passa mais confiança,ativa a curiosidade e o interesse, mostrando ao público que o tema será relevante para ele e não algo genérico ou muito amplo, e que o trabalho foi preparado para auxiliá-lo em suas dificuldades reais.

Segue um exemplo de divulgação pelo aplicativo WhatsApp:

Observem a descrição sintética, tanto no próprio cartaz quanto no texto complementar, e os subtemas em tópicos, que especificam com clareza o que será abordado. Para isso, antes de tudo, o público-alvo foi definido como de trabalhadores da Mediunidade, logo de pessoas com alguma bagagem sobre o assunto.

  • Envolvimento social

Por meio de algumas estratégias,deve ser rompida a barreira rígida entre organizadores e participantes do evento, o que gera maior vinculação com e adesão ao trabalho, em sua preparação, divulgação e avaliação.

Propostas de trabalho sem diálogo com o público podem não atingir suas reais demandas ou expectativas e passar falsa sensação de sucesso a seus organizadores. Afinal, devemos “tentar fornecer conteúdo que ajude este público a aliviar suas ansiedades e realizar seus desejos”[3].

Algumas práticas são recomendadas, como:

  • Mostrar que pessoas se interessaram pelo evento, através da postagem de fotos e vídeos (afinal, “se muitos vão, deve ser bom. Vou ao próximo!”);
  • Motivar os participantes a contribuir com o evento e a divulgá-lo, o que gera maior vinculação e conexão do público-alvo. Além disso, atualmente, “os consumidores se importam cada vez mais com as opiniões dos outros” e preferem uma “orientação mais horizontal”[4], ou seja, confiam mais na opinião de quem vai que na de quem organiza:
  • Trabalhar uma divulgação mais personalizada e próxima, o que favorece a sugestão anterior. Divulgar os eventos também privadamente, quando possível, chamando a pessoa pelo nome, pode ser uma boa estratégia. Segundo Kotler, “as marcas que são humanizadas tornam-se mais atraentes”[5];
  • Realizar e publicar avaliações do evento, captadas a partir de estatísticas de acesso e reações do público a publicações em sites e redes sociais. Isso demonstra interesse em aprimorar o trabalho:
  • Promover com o público-alvo pesquisas sobre temas mais interessantes para futuros eventos, o que favorece a ideia de “co-criação”[6]:
  • Mostrar resultados colhidos pelos participantes do evento ao aplicar as sugestões propostas. Por exemplo, destacar que “o Centro Espírita X também começou a adotar a #pracegover em seus posts” após observarem a proposta.

Como exemplo, os organizadores da COMEJUS (Confraternização de Mocidades Espíritas de Juiz de Fora e Sub-região) sempre divulgam fotos e vídeos pré, durante e pós-evento, permitem aos participantes a escolha do próximo tema, realizam e valorizam pesquisas de avaliação e envolvem no trabalho os movimentos das próprias mocidades espíritas, integrando-as à proposta do evento.

Por fim, destacamos que, se a preocupação com o conteúdo é prioritária, o cuidado com a forma de sua veiculação ou divulgação é essencial para que todo um esforço de preparação não se perca. Afinal, “o conteúdo de alta qualidade é inútil se não atingir o público pretendido”[7].


[1]KARDEC, Allan. Obras póstumas. Tradução de Evandro N. Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009, “Projeto 1868”.

[2]KOOGAN, Abrahão; HOUAISS, Antônio. Koogan/Houaiss Enciclopédia e dicionário. Rio de Janeiro: Edições Delta, 1994.

[3]KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. Rio de Janeiro: Sextante, 2017, p. 155.

[4]Idem, pp. 28 e 29.

[5]Idem, p. 103.

[6]Idem, p. 67.

[7] Idem, p. 158.

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