Você acha que estamos piores?
Ricardo Baesso de Oliveira
Nos seminários que faço, percebo, pelo menos em grande parte dos ouvintes, uma crença segundo a qual vivemos uma época de crise, como nunca outra existiu, de sofrimento superlativo e de incomparável número de tragédias coletivas, que sucederam umas às outras. Essa crença mostrou-se mais acentuada durante a pandemia da Covid-19.
Como a dor que nos dói é a nossa, temos a impressão de que nunca ouve uma época tão difícil como a atual.
Só que isso não é verdade. Em todos os aspectos, vivemos o melhor período da história da Humanidade. Para mostrar isso, convido o leitor a uma breve comparação entre os nossos dias e cem anos atrás.
Vamos imaginar que estamos reencarnados em 1923. Havíamos sofrido, há poucos anos, os horrores na Primeira Guerra Mundial (1914- 1918). O saldo do conflito foi, aproximadamente, 10 milhões de mortos e uma Europa totalmente arrasada.
Estávamos tentando deixar para trás o sofrimento causado pela gripe espanhola (janeiro de 1918 a dezembro de 1920), considerada uma das pandemias mais devastadoras e letais da História. A doença alastrou-se por todas as regiões do mundo e deixou o maior número de infectados e mortos, se comparada com outras pandemias, pelo menos 3 vezes mais que a pandemia da Covid-19.
Não havíamos nos recuperado da guerra e do vírus, quando nos deparamos com a volta da febre amarela, em 1928, com milhares de mortos no Brasil, e a crise econômica de 1929. O efeito foi devastador, pois as ações se desvalorizaram fortemente em poucos dias. O número de falências de empresas foi enorme e o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores.
Mas as coisas não param por aí. Alguns anos depois, estaríamos diante de nova grande guerra: a Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo. Foi o conflito militar mais mortal da História. Um total estimado de 70 a 85 milhões de pessoas pereceram, o que representou cerca de 3% da população mundial de 1940.
E mais: terminada a Segunda Guerra, iríamos encarar o vírus da paralisia infantil. Apenas na América do Norte, 250 mil crianças foram para uma cadeira de rodas em decorrência da poliomielite.
E permeando tudo isso, a varíola. Para que se tenha uma ideia de sua magnitude, só durante os 80 anos em que esteve ativa, no século passado, a varíola matou mais de 300 milhões de indivíduos.
E você ainda acha que estamos piores?