Como o Espiritismo contribui para um mundo melhor – 2ª parte

José Helvécio

Dando continuidade ao primeiro artigo, destacamos que o Espiritismo explica que Jesus não é Deus e que também não é o único filho de Deus, pois todos somos filhos de Deus.[i] Traz-nos a revelação que Jesus é um Espírito altamente evoluído, um filho mais velho, que foi criado antes de nós, já que Deus cria incessantemente, e que trilhou o mesmo caminho evolutivo até atingir a culminância em que se encontra.

Bilhões de anos atrás, Jesus recebeu de Deus a incumbência de formar um novo mundo que deveria abrigar as criaturas que viriam povoá-lo depois. É assim que ele trabalhou, juntamente com uma equipe de comandados seus, na construção do planeta Terra. Por isso, Jesus é considerado o governador espiritual da Terra. Em um momento de grande sacrifício e amor, deixou as regiões resplandecentes em que vive para descer à Terra, encarnar-se e viver com os seres humanos nas suas condições. Tudo isso para ensinar o caminho do progresso, o caminho para a felicidade, que consiste em amar a todos indistintamente e fazer aos outros exatamente aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem (Mt 7:12). Sua mensagem é de amor, colocando todos os seres como filhos do Amor.

Jesus comprovou a imortalidade quando retornou após sua morte na cruz. Em diversas ocasiões, confabulou com seres humanos que já haviam morrido e apareciam para comprovar a imortalidade. Com isso, deixava também a mensagem de que é possível o intercâmbio com os seres espirituais, o que o Espiritismo demonstra por meio dos médiuns. Ensinou que existem muitas moradas na Casa do Pai, ou seja, que existem outros mundos habitados.

O Espiritismo vem desmistificar os aparecimentos de Espíritos, demonstrando que é um fenômeno natural, que não há aí nada de sobrenatural. Por isso, orienta o desenvolvimento dos potenciais mediúnicos das pessoas que os possuem e as denomina médiuns. É através dos médiuns que os Espíritos conseguem se manifestar no meio físico. Eles vêm demonstrar o seu interesse pelas pessoas que ficaram na Terra e instruí-las para o bem. Mas, é claro, que não sendo os Espíritos nada mais do que os seres humanos sem o corpo físico, existem aqueles que também vêm para perturbar, prejudicar, obstruir o desenvolvimento espiritual das criaturas.

A Doutrina Espírita ensina que o processo mediúnico só deve ser utilizado para o bem. O médium espírita é um voluntário do trabalho espírita e nada cobra ou recebe em troca do seu trabalho. Aprende que a mediunidade é uma oportunidade de servir de intermediário entre o plano físico e o espiritual e que deve ser utilizada como meio de aprendizado e evolução. Entrega-se ao labor como um discípulo do Cristo, pelo prazer de servir, sem qualquer pretensão de recompensa.[ii]

Ainda como contribuição para um mundo melhor, o Espiritismo explica as desigualdades sociais, demonstrando que são consequências dos atos e vivências dos Espíritos nas suas diversas encarnações, ainda que consequência do egoísmo dos próprios homens. Que riqueza e pobreza são provas necessárias ao aperfeiçoamento dos Espíritos.

Segundo Allan Kardec, “a riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria.”[iii] Ricos e pobres são Espíritos em provação. Aquele que é pobre já foi ou poderá vir a ser rico em outra encarnação. Da mesma forma, o rico é alguém que já experimentou a pobreza e ainda poderá experimentá-la em futura encarnação. São oportunidades de evolução que a vida apresenta.

Tais esclarecimentos proporcionam um alento, ao mesmo tempo em que libertam aquele que compreende que a vida na Terra é um momento de aprendizado. É um antídoto contra o egoísmo, a ambição desenfreada, o insulamento, o orgulho e a vaidade, porque leva o indivíduo a compreender que estamos todos interligados; que as condições de rico e pobre são temporárias e passageiras; que viver deve ser um processo de cooperação mútua e que, se pudermos contribuir com o bem-estar do próximo, se pudermos ajudar, pode ser que sejamos aqueles que necessitarão de ajuda. Isso desperta a noção do tão falado “amor ao próximo”.

Daí o Espiritismo colocar a caridade como sendo a mola propulsora para a evolução do Espírito e orientar que ela é muito mais do que simplesmente doar algo. Caridade é ser benevolente, expressar complacência, bondade, colocando-se no lugar da outra pessoa. É demonstrar interesse por ela, fazendo o melhor para que a pessoa esteja bem. Caridade é indulgência, tolerância para com os erros e as imperfeições dos outros, pois sabemos que precisamos ou precisaremos também de indulgência. A caridade expressa o perdão de todas as ofensas,[iv] pois perdoar é muito mais que um ato de misericórdia, mas um ato de amor-próprio, de autoestima. Quem se ama e se valoriza sabe que não merece viver com o lixo da raiva dominando seus pensamentos e atitudes, corroendo a sua saúde.

A lei de causa e efeito é outra contribuição que a Doutrina Espírita traz para compreendermos melhor nossas vidas e estamos submetidos a esta lei. Ela permite que utilizemos o livre-arbítrio, executando uma ação voluntária, e que, em consequência, gera uma reação equivalente. Ou seja, boas ações provocam boas reações, nesta ou em outra encarnação, da mesma forma que más ações provocam reações desagradáveis, nesta ou em outra encarnação. 

Essa ideia derruba a tese do Céu e do Inferno, já que não existem punição nem recompensa na Lei Divina, mas sim um efeito em nós mesmos de todo o nosso comportamento. A lei é de amor, então todos receberão novas oportunidades para corrigir o que foi mal feito. As consequências das más ações podem ser experimentadas nesta encarnação ou no plano espiritual. Têm o objetivo de despertar o indivíduo para o arrependimento e permitir ao Espírito reencarnar, a fim de receber uma nova oportunidade para corrigir o que fez de errado. Se o indivíduo praticou boas ações, terá paz de consciência, alegria e felicidade no plano espiritual. Isso o permitirá planejar uma nova encarnação para se aperfeiçoar cada vez mais.

A figura do demônio se torna alegórica, porque não é possível que Deus tenha criado um ser voltado ao mal ou que o mal seja eterno. Os Espíritos, por mais maléficos que sejam, jamais ficarão nesta condição eternamente. Receberão a oportunidade de reencarnar até que se depurem e se voltem para a prática do bem e do amor.[v]

É dessa forma que o Espiritismo contribui para que o mundo seja cada vez melhor. À medida que os seres humanos vão compreendendo seus postulados e se esforçando para praticar o bem, a vida se torna mais agradável, as pessoas mais felizes e o mundo melhor. Toda transformação depende exclusivamente de nós.


[i] KARDEC, Allan. Obras póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2009, 1a p., Estudo sobre a natureza do Cristo.

[ii] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2010, c. 26.

[iii] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2010, c. 16, i. 7.

[iv] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2010, q. 886.

[v] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 2009, 1a p., c. 9.

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