Como o Espiritismo contribui para um mundo melhor – 1ª parte

José Helvécio

O Espiritismo surgiu em 18 de abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, primeiro livro lançado por Allan Kardec, pseudônimo utilizado pelo insigne professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail. Em uma observação, Kardec diz não pretender ter nenhum mérito pessoal na confecção da obra, pois os princípios nela inscritos não são de criação sua. O mérito, diz ele, cabe todo aos Espíritos que a ditaram.[1]

O Espiritismo vem cumprir a promessa de Jesus de que enviaria outro Consolador, o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhecia, pois não estava maduro para compreendê-lo; ensinaria todas as coisas e lembraria o que Ele dissera (Jo 14:16-17). É assim que surge, na época predita, o Espiritismo, cumprindo a promessa do Cristo, esclarecendo o ser humano sobre sua origem, para onde vai e porque está na Terra.

Revela a imortalidade através das comunicações dos Espíritos, que nada mais são que os seres humanos sem o corpo físico, ou seja, aqueles que já partiram pelo processo da desencarnação. Deixa claro que ninguém morre, que a morte é apenas transferência para outra dimensão, para outro plano de existência, o qual denomina Plano Espiritual, Mundo Espiritual ou Mundo dos Espíritos.

Com a certeza na imortalidade, os laços de família se fortalecem, já que no Mundo Espiritual os Espíritos formam grupos ou famílias que se unem pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações.[2] Sentir-se-ão felizes por estarem juntos novamente e planejarem as novas etapas de seu progresso.

Com essa confirmação, perde-se o medo da morte. A convicção de que a vida real – a vida verdadeira do Espírito –, seu estado natural, é o de Espírito livre, ou seja, de desencarnado, dá ao ser humano a serenidade para viver enfrentando as dificuldades e problemas da vida, pois sabe que serão passageiros e que representam oportunidades de aprendizado e evolução para alcançar a felicidade, já que esta é a meta de todos.

O Espiritismo esclarece que somos seres espirituais criados por Deus, simples e ignorantes, isto é, sem qualquer conhecimento, sem ciência do bem e do mal, mas com aptidões iguais para tudo e destinados à perfectibilidade, a qual deverá ser conquistada pelo esforço individual, por meio das múltiplas e diversificadas experiências reencarnatórias.[3]

Com o desenvolvimento do livre-arbítrio, passamos a decidir como agir, escolhendo os caminhos que melhor nos aprazem, errando e acertando num trabalho constante de aperfeiçoamento. É assim que recebemos a oportunidade de nascer e renascer indefinidamente, até que aprendamos a prática do bem e do amor.

Nascer novamente é o anseio dos Espíritos ainda imperfeitos. A reencarnação, que é explicada pelo Espiritismo,[4] vem confortar e, ao mesmo tempo, proporcionar a certeza de que é possível o progresso constante e o recomeço de uma existência que tenha sido mal aproveitada. Com isso, acaba com a ideia de castigo divino, de punição pelos erros cometidos e oferece uma visão mais sensata do amor de Deus, que dispensa ao ser tantas oportunidades quantas forem necessárias ao seu aperfeiçoamento.

Partindo dessa compreensão espiritualista e reencarnacionista, a existência humana ganha sentido e afasta o ser da visão materialista com as suas consequências mais terríveis, como, por exemplo, o apego à vida e às coisas materiais, o consumismo e o niilismo, com os seus consequentes e nefastos desdobramentos, principalmente o suicídio.

O suicídio passa a ser visto como uma alternativa vã, já que o indivíduo continuará vivo e estará em um meio espiritual de perturbações e dores compatíveis com a sua intenção ao cometer o ato. O Espiritismo demonstra a situação de dor e sofrimento dos Espíritos suicidas por meio de suas comunicações e de relatos dos instrutores espirituais,[5] que afirmam ser um grande engano a tentativa de deixar a vida. Entretanto, destacando a misericórdia divina, mostra que esses Espíritos não estão condenados, mas terão novas oportunidades de regeneração. Somos imortais e o que se deve fazer é lutar para superar as próprias limitações, num esforço íntimo para a superação de si mesmo.

O Espiritismo, ao mesmo tempo em que instrui, coloca suas instituições à serviço do amor, amparando aqueles que precisam de uma palavra de estímulo, de consolo, de esclarecimento. As instituições espíritas são casas de acolhimento e ensino dos postulados espíritas, locais de estudo e orientação para todos os que as procuram, independente de crenças religiosas. O Espiritismo não exige que aqueles que recebem seus benefícios se convertam à doutrina, pois se baseia no princípio do amor, que nada impõe, que nada pede, mas apenas doa.

Esclarece que o nascimento de um ser é uma concessão da Providência Divina de nova oportunidade para que se tenha experiências necessárias ao seu aprimoramento moral e espiritual. Por isso, ensina que o aborto provocado, em quaisquer circunstâncias, é contrário à Lei da Vida. A única exceção é quando coloca em risco a vida da mãe.[6] Demonstra que o Espírito abortado sofre muito e, em alguns casos, por ignorância, se revolta e persegue aqueles que deliberaram pela interrupção de seu nascimento. Todos aqueles que foram responsáveis pelo aborto enfrentarão sofrimentos em suas reencarnações, até que corrijam o ato equivocado.

Porém, adverte que esse processo não representa um castigo de Deus e sim uma expiação, que também não é uma punição, mas um método de eliminação das desarmonias mais profundas do corpo espiritual para a periferia do corpo físico. É a oportunidade regeneradora que o Espírito recebe para restaurar o próprio equilíbrio. Dessa forma, não é preciso se culpar, sentir remorso, mas perdoar e arrepender-se, pois o arrependimento nos leva a rever nossos atos e comportamentos e estimula a prática das boas obras, das ações nobres, já que todo o bem que se faz anula o mal que se fez.

O Espiritismo ensina que Deus é amor, inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas;[7] que ainda não somos capazes de compreendê-Lo, porque nossa inteligência é limitada, e não é possível, ao ser limitado, compreender o ilimitado; que Deus é o Criador de tudo e ama a todas as suas criaturas da mesma maneira, não tem preferência por este ou aquele povo, não castiga, não pune e nem recompensa, pois tudo e todos estão subordinados às suas Leis, que são permanentes e imutáveis. Em suma, proporciona a todos as mesmas oportunidades de crescimento espiritual.


[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, introdução, XVII.

[2] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, c. 4, i. 18.

[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, q. 115.

[4] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, 2a p., c. 4.

[5] KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2009, 2a p., c. 5.

[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, q. 357 e seguintes.

[7] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2a ed., Rio de Janeiro: FEB, 2010, 2a p., q. 1 e seguintes.

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