Libertar-se do mal: em busca de uma vida plena

Gisele Marques

No cenário complexo da existência humana, enfrentamos diariamente desafios que podem nos afastar da paz interior e do desenvolvimento espiritual.

O mal, entendido como “tudo aquilo que é contrário à Lei de Deus”1, ligado às imperfeições humanas, sejam em manifestações externas ou mesmo em nossos pensamentos, é um obstáculo significativo à instalação do mundo regenerado na Terra, já que este depende diretamente da evolução moral de seus habitantes.

Libertar-se do mal é, no trabalho hercúleo do autoconhecimento e da autoavaliação, encontrarmos os pontos a serem trabalhados para que estes, transmutados, nos conduzam ao crescimento moral que nos levará ao estado de harmonia com o universo.

O homem, mesmo sem consciência plena, sabe, por trazer em si a Lei Divina, estar encarnado em projeto de evolução moral, em convite urgente de refazimento próprio por meio de atitudes benéficas para o todo, onde o mal não deveria encontrar guarida.

Encontramos em O Livro dos Espíritos os seguintes ensinos:

A nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz age por conta própria, sujeitando-se, portanto, às consequências. (…).”2

E, ainda:

(…) responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” 3

Percebemos que a escolha pela prática do bem ou do mal é de nossa inteira responsabilidade, frente a esse cenário atual em que propostas múltiplas nos chegam, exigindo de cada um de nós maior discernimento e vigilância quanto aos nossos pendores e propostas. De um lado, a riqueza de possibilidades e, de outro, o ser carente de saber, entregando-se às mais variadas compensações emocionais, sem avaliação cuidadosa dos propósitos de cada convite.

Falar da libertação do mal, encaminhando-se a uma vida plena e completa no bem, é falar de uma transformação interior, que requer cuidado, atenção, amorosidade, análise, sensibilidade e constante avaliação. Só assim, sem “desculpismos” e condescendências à nossa pouca vontade, conseguiremos sair do estágio “provacional” em que nos encontramos.

Por isso nos informam os Espíritos, em comunicação ao Codificador, quando perguntados se poderíamos vencer nossas más inclinações:

Sim, e por vezes fazendo esforços bem pequenos. O que lhe falta é a vontade. Ah, quão poucos dentre vós fazem esforços!4

Nos deixamos arrastar pelas paixões e pelos prazeres do hoje, do aqui e do agora, dando vazão à parcela material do homem, em detrimento do ser espiritual, que o é, nos colocando à parte de toda Criação e, assim, em desconsideração ao todo, primando pelo usufruto impensado, construindo o mal disfarçado de felicidade momentânea, sobrepujando aqueles que deveriam estar sob nossa tutela. Lembramos que o uso de toda a obra da Criação é permitido ao homem, “o abuso jamais constituiu direito.” 5

Autoconhecimento e coragem para modificar o que é devido; vigilância constante às propostas e pendores; empatia e ação para o alívio das dores de todos; busca pelo conhecimento espiritual; consciente tomada de responsabilidade de tudo o que nos cabe; reconhecer-nos como ser imortal, coletor futuro dos nossos atos; faz com que tomemos nosso arado e tracemos novas eiras, mais cuidadas e orientadas, para a plantação do Bem Maior.

A libertação do mal não é apenas um objetivo a ser alcançado, mas um processo contínuo a ser adotado em nosso dia a dia.

“Não há quem não possa fazer o bem”6, nos diz a Codificação. Então fica-nos a pergunta: o que nos detém em ligações de dor e más condutas? O que nos cerceia a liberdade e a plenitude de uma vida feliz?

Ousamos dizer: nosso egoísmo, nosso orgulho e nossa vaidade. Vícios capazes de nos manter na falsa ideia de que seremos plenos quando ao nosso redor pairar a sensação de plenitude, não reconhecendo o caminho contrário, que o externo sempre refletirá o interno de cada um de nós.

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 630, p. 349.
  2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 470, p. 281.
  3. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 642, p. 352.
  4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 909, p. 469.
  5. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 734, p. 391.
  6. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Guillon Ribeiro. 86ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Questão 643, p. 352.

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