A vontade segundo Kardec
Ricardo Baesso de Oliveira
Kardec se vale do vocábulo vontade 115 vezes em O Evangelho segundo o Espiritismo e 136 em O Livro dos Espíritos, admitindo ser a “vontade” o mais eficaz instrumento no combate às más inclinações.1 Coloca, também, que devemos resistir com toda a nossa energia aos arrastamentos que podem enfraquecer essa vontade.2
Mas, para Kardec, o que significa vontade? O codificador vai defini-la em um discurso pronunciado na Sociedade Espírita de Paris e reproduzido na Revista Espírita de dezembro de 1864:
O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o Espírito da matéria; sem o pensamento, o Espírito não seria Espírito. A vontade não é um atributo especial do Espírito; é o pensamento chegado a certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o Espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam!
Da conceituação de Kardec, extraímos algumas lições:
1- Não se deve considerar a vontade como um atributo do Espírito, diferenciando-a da inteligência, das propensões artísticas, da religiosidade etc.;
2- Deve ser considerada como o resultado de um pensamento que se move no sentido da realização, da concretização de algo, que existiu inicialmente apenas no campo mental;
3- A vontade se expressa quando faz acontecer: força motriz, ou seja, uma energia que move, que age, que gera alguma coisa, que tem consequências;
4- Devemos diferenciá-la do desejo, pois este é um querer adiado, postergado, que ainda não se deu; enquanto a vontade é um querer materializado, acontecido, finalizado;
Exemplificando com dois exemplos: o fumante quedeseja parar de fumar, mas ainda não o fez. Está na dimensão do desejo, programado apenas, mas não concretizado. A pessoa que está acima do peso e que, fazendo uso da vontade, perdeu dez quilos. Trata-se de vontade porque fez acontecer.
Um grande desafio para nós espíritas é deixarmos a dimensão do desejo (querer adiado) e mergulharmos na dimensão da vontade (querer concretizado). Agindo assim, daremos passos seguros rumo ao real desenvolvimento espiritual.
1 LE, item 909
2 ESE, cap. 5, item 25