A robotização total do trabalho humano: utopia ou realidade?

José Fernando

O medo humano sempre arma suas ciladas, mas quem confia no Senhor, vive em segurança!”
Provérbios 29:25

(1) O evento de cúpula governamental, denominado pela imprensa de “Cimeira do Governo Mundial”, realizado no Oriente Médio em 2017, deixou-nos reflexões curiosas acerca do trabalho profissional que nos engajamos e que constitui nossa oportunidade de sobrevivência física, sendo, para alguns, meta psicológica de vida, enquanto tiver força física.

Diante de uma plateia de dezenas de chefes de Estado e do poderoso sultanato do petrodólar de Dubai, Elon Musk, gênio controverso e visionário, profere mais uma de suas falas futurísticas ao afirmar, com convicção, que, num futuro não muito distante, não haverá mais trabalho profissional para toda a Humanidade. Segundo ele, a 4ª Revolução Industrial aumentará ainda mais a substituição de humanos por máquinas e moldará a Humanidade por engenharia genética integrada e programas de inteligência artificial. Suas empresas, que já constroem robôs tão inteligentes, capazes de substituir muitos homens em tarefas manuais pesadas, também já antecipam vultosos investimentos para sutilizar ainda mais a capacidade produtiva destas máquinas. Como proposta de minimizar o impacto social negativo de suas declarações, Elon Musk sugere, diante de poderosos líderes mundiais, de sheiks e emires trilionários, perplexos e pressurosos, a criação de uma renda básica universal, a conhecida e, às vezes, criticada “bolsa família”, em versão mundialista, para os futuros desempregados. Ele mesmo, porém, não soube responder como preencher o vazio existencial que seria ocasionado pela falta da gratificação e da valorização humana que o trabalho digno e honesto proporciona à criatura, mesmo tendo uma renda gratuita que atenderia às necessidades mais básicas.

Falas catastróficas não são novidade para nós. Exemplos como este existem às mancheias, basta recordar a 1ª Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no final do século XVIII, com o advento das primeiras máquinas industriais, os teares mecânicos. À época, os “ludistas”, militantes contrários à iniciante mecanização do trabalho, foram às ruas protestar contra a possibilidade da perda de seus empregos. A chegada dos primeiros computadores revivesceu este pânico e, no Brasil, na era das privatizações, pipocavam manifestações repudiando a iniciativa, pois entendiam os dissidentes que o desemprego seria aprofundado e a economia nacional não suportaria a substituição da mão de obra humana por computadores de última geração. Além disso, a transferência do domínio econômico das empresas públicas para o setor privado também geraria, por consequência, demissões trabalhistas em massa.

Diante dessa sombria perspectiva, como explicar a estimulante fala de Jesus em João, capítulo 5, versículo 17? “…Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Por conseguinte, como confiar na resposta de Emmanuel em O Consolador, quando garante que “a luta e o trabalho são tão imprescindíveis ao aperfeiçoamento do Espírito como o pão material é indispensável à manutenção do corpo físico”? (2)

Nada mais gratificante do que termos como base para nossas reflexões os sagrados ensinamentos da Terceira Revelação, esta auspiciosa intervenção direta da divindade no conturbado mundo das ideias humanas. Considerado como a eficiente lupa que perscrutou e iluminou os ensinamentos de Jesus, o Espiritismo, representando a revelação com o enfoque da verdade, rasgou os véus que encobriam o simbolismo das parábolas e dos ditos evangélicos que nós, ainda débeis iniciantes das coisas sagradas, àqueles tempos, não dispúnhamos da capacidade de entender. Em razão disso, o Pentateuco Kardequiano brilhou como um radioso clarão a explicitar a sensatez e a ordem que governa o cosmo em todas as épocas da Humanidade, e que infunde esperança e otimismo diante das tão frequentes ebulições sociais.

Quando os numes tutelares da Codificação revelaram a Kardec que toda ocupação útil é trabalho, a angustiosa expectativa de uma sociedade sem sentido de vida e sem trabalho profissional remunerado se dissolve na alvorada alvissareira da esperança e da confiança irrestrita no Pai Celestial, que tudo sabe e tudo provê. Deus, para conduzir Seus amados filhos ao determinismo divino da evolução infinita e da perfeição relativa, dispõe de recursos inesgotáveis e potencialidades inimagináveis por nós, simples mortais.

A sociedade moderna já vislumbra, em ensaios tímidos, mas determinados, o posicionamento daqueles que gozam o tão sonhado momento de aposentadoria de seus afazeres profissionais. Já não parece mais vigorar, atualmente, o antigo conceito de dolce far niente na aposentadoria,ansiosamente esperada por aqueles que, em seus dias de labuta diziam que, ao pendurar as “chuteiras”, iriam passar seus últimos dias em cidade praiana, em merecida malemolência, a se encantar com o murmúrio do mar e se deslumbrar com o espetáculo multifacetado das cores do pôr do sol.

Percebemos hoje idosos comprometidos com as causas sociais e religiosas em serviços voluntários, que demandam muito mais de seu tempo do que seus empregos de outrora. Passam, também, muitas horas em estudos das ciências diversas e reservam um tempo para descobrir dons artísticos que não tiveram ocasião de aprimorar.

Em uma sociedade que começa a se preocupar com as questões ambientais, o homem terá uma gama imensa de oportunidades de investir nos recursos naturais, aprimorando e embelezando ainda mais a natureza ao seu redor em laboriosos estudos e trabalhos, que terão origem nessas novas atividades. Para corroborar o raciocínio, relembramos Emmanuel,quando afirma que: “os reinos da natureza são o campo de operação e trabalho dos homens (….)” (3)

Podemos reconhecer também variadas oportunidades de emprego oriundas da medicina veterinária, nesse momento em que a sociedade se volta para o respeito e cuidado com os animais. Tal atitude reforça mais uma lição de Emmanuel ao responder se a Zoologia também seria objeto de atenção do plano espiritual. Afirma ele:

Sem dúvida, também a Zoologia merece o zelo da esfera invisível, mas é indispensável considerarmos a utilidade de uma advertência aos homens, convidando-os a examinar detidamente os seus laços de parentesco com os animais, dentro das linhas evolutivas, sendo justo que procurem colocar os seres inferiores da vida planetária sob o seu cuidado amigo. (4)

Há de se observar, ainda, novos campos de trabalho que poderão surgir com o emprego ético da Inteligência Artificial e das pesquisas espaciais, agora fomentadas pela parceria público/privada, que investe maciçamente na construção de foguetes para viagens siderais, almejando a concretização do antigo sonho dos terráqueos na busca incessante de novos mundos interplanetários.

Convém recordar que Jesus, o Mestre do otimismo, nos legou preciosas informações repletas de esperança no porvir, imbuídas em suas singelas palavras: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mateus 6:26)

  1. Em: https://youtu.be/zPmv98D7-bY
  2. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. O Consolador. Cap. Experiências, questão 131.
  3. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. O Consolador. Cap. Ciências Especializadas, questão 78.
  4. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. O Consolador. Cap. Ciências Especializadas, questão 78.

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