O Espiritismo e a criança

Coluna “O Médium de ontem”

Nancy Leite de Araújo

Publicado na revista O Médium de outubro e novembro de 1953

Patrimônio espiritual da humanidade, corolário sublime dos ideais vividos à luz amorredoura de renúncias e martírios, estremece em sua estrutura milenar, antes a onda avassaladora das inovações prejudiciais e das concepções destrutivas.

Sabemos que as transições morais dos povos se produzem em meio a uma aparente desordem, que no fundo é a própria afirmação da ordem, selecionando e classificando os valores legítimos necessários à obtenção de um estado ideal, onde a verdade será a lei e o amor a sua execução.

Vivemos numa fase decisiva para os nossos destinos – urge efetivar-se o trabalho ativo de renovação e preparo da criatura no encontro consigo mesma, o que importa dizer, com a sua origem divina.

O homem se afasta de Deus em busca de certos ideais, que são caminhos escuros por onde transitam ilusões perigosas, e a Deus retorna pela vereda da dor, sentindo na alma o vazio das conquistas terrenas, procurando ansioso a certeza que a fé lhe proporciona.

Nessa altura, reconhecemos a influência poderosa da doutrina espírita em todo esse processo lento de transformação moral do planeta, e vislumbramos as luzes da Terceira Revelação iluminando o mundo redimido do porvir.

A grandeza espiritual das doutrinas religiosas se mede pela capacidade de renovação superior dos seus crentes. A que mais poderosamente atuar no espírito humano, no sentido de reajustá-lo nos agrados propósitos do bem, esta será a religião que se afirmará como fator preponderante da aproximação da criatura ao Criador, resistindo aos embates desorientadores do materialismo.

Allan Kardec pontificou na jornada espiritual da humanidade com o marco glorioso denominado: CODIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO, deste foco poderoso, setas de luzes têm sido arremessadas, alcançando objetivos fundamentais para o bem das criaturas, destacando-se o esclarecimento do homem quanto a sua origem e destino, e ao fortalecimento da fé, através do estudo das coisas divinas, baseado na razão e na ciência.

Os espíritas do século XX reconhecem que a atitude inicial do observar, perquirir, sondar e descobrir, se transformou na ação superior do ajudar, esclarecer, proteger e amar.

Os grandes iniciados, liderados por Allan Kardec, ergueram na Terra o monumental edifício da doutrina espírita, alicerçando-o com as obras que os seus profundos conhecimentos na ciência e na filosofia lhe outorgaram – no campo das experimentações, comprovaram veracidade das afirmações dos espíritos, e no estudo dos fenômenos reconheceram os efeitos de uma causa superior.

A estrada se apresenta, aos nossos olhos, perfeita, clara, sem curvas e sem sombras. Valorizemos o esforço dos que nos deixaram tão sublime legado, trabalhando intensamente na seara espírita.

E é justamente neste momento crucial vivido pela humanidade, que da própria doutrina nos vem o chamado glorioso em prol de certa realização, a qual na verdade encerra o seu desenvolvimento a Redenção do mundo:

– EDUCAR ESPIRITUALMENTE A CRIANÇA PARA SALVAR O HOMEM DO FUTURO.

Por certo, em outros planetas, onde imperam a ordem o entendimento alevantado – que nessas paragens é o estado normal – em épocas passadas, atravessando fases de perturbação idêntica à que estamos vivenciando, solucionaram se problemas inquietantes quanto ao progresso moral, amparando se a criança na sua necessidade de iluminação íntima.

Compreendemos que nessa tarefa de ajudar a infância, oferecendo-lhe as luzes da doutrina, estará colimado o mais alto objetivo de todas as realizações que, por etapas sucessivas, foram efetivadas pelos espíritas.

Educar a criança no EVANGELHO DE JESUS, à luz do Espiritismo, será a mais santa e verdadeira aquiescência ao apelo do Mestre.

– “Deixar vir a mim os pequeninos!”

No Brasil o grande movimento em favor da integração da criança na doutrina espírita já é uma realidade.

Reconhecemos a necessidade da formação de novos trabalhadores que, fiéis aos princípios com que forem educados, saberão servir ao Cristo, dignificando a doutrina através dos seus próprios atos.

Preparar a criança, firmando na sua alma mentalidade espírita-cristã, é assegurar a difusão e continuidade do espiritismo cumprindo-se, assim, o seu desígnio superior de esclarecer e amparar as criaturas.

Todos os espíritas devem trabalhar junto aos corações infantis na vitoriosa cruzada, que tem por lema: EDUCAR É SALVAR.

Completaremos, enfim, às nossas tarefas no mundo, se oferecermos as luzes do entendimento elevado a quem, por direito, espera de nós esse auxílio.

Se não cooperarmos nesse movimento abençoado da redenção espiritual da criança, através do fortalecimento da sua alma, teremos uma grande parcela de culpa em todo o erro, sofrimento e desequilíbrio que afligir a humanidade vindoura.

A nossa consciência indagará sempre:

– Que fizeste pela criança que é a semente do futuro? Não acendesse uma luz, não amenizaste uma dor, não evitaste um crime, cedendo um pouco do seu esforço em favor da alma infantil, que, no entanto, confiava em ti!

Espíritas de todas as pátrias!

– Amai a obra de Deus, atendendo ao doce apelo de carinho, ajuda e compreensão, que as crianças nos fazem nas horas de suas vidas!

O espiritismo se afirmará no conceito das criaturas de um modo positivo e duradouro, no dia que transformar os pequeninos, senhores do mundo de amanhã, em perfeitos seguidores do Cristo.

Será a sementeira da Luz, trazendo em consequência a colheita do Amor!…

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